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terça-feira, 1 de junho de 2021

Pajada tem que ter estilo!

 01/06/2021 Criação da modalidade: 

“Versos Improvisados" no estilo Jayme Caetano Braun 

no "Festival de Trovas e Pajadas de São Luiz Gonzaga" 






 

Antes de tudo a palavra PAYADA(pajada para nós) é usada nos paises hermanos Chile, Argentina e Uruguay para definir a arte do verso improvisado! Há várias versões sobre a origem da palavra!

E confesso que este tema sobre a origem da palavra e a definição de Pajador é tão complicado que alguns entendidos, com sabedoria,  limitam-se a dizer" o assunto é muito complexo e requer prudente análise".

Pelo pouco que soube, essa discussão vem de longe e vai mais longe ainda, é um nó difícil de desenrolar, pior que o cortado por Alexandre o Grande...


O verso cantado improvisado, existe desde a aurora dos tempos, não há como precisar sua origem... Vide os Bardos na idade média e anterior a isso os Aedos na Grécia antiga, que transmitiam através de versos cantados ao som de seus alaúdes ou liras, histórias, mitos, informações ao correr do caminho por onde passavam. Mais tarde vieram a ser chamados de Trovadores.

Bardo da idade média





Aedo Grécia antiga-
estátua de Homero




A Payada(pajada) é o verso de improviso de contraponto(um contrapondo o outro) comum nos paises Chile, Argentina, Uruguay e no sul do Brasil(RS), onde o pajador opina sobre algo em versos rimados, comumente ao som de milonga no violão. Os versos são declamados em décimas Espinela(veja abaixo)

A Pajada pode ser de infinitos temas, onde o pajador tem a liberdade de discorrer sobre qualquer assunto, porém sempre seguindo uma linha mestra relacionada às coisas do pago.

Seria algo estranho ver uma pajada somente com temas "cibernéticos" ou sobre "economia financeira" sem estar relacionada às coisas terrunhas... 


Como disse no início é um assunto complexo entre os conhecedores, imagina pra nós desconhecedores, nele existe algumas polêmicas:


Polêmica 01: 

"A origem da décima Espinela"

A "Décima Espinela", modalidade de versos utilizada na Pajada, leva este nome em homenagem ao seu divulgador Vicente Espinel, poeta, músico e escritor espanhol. Espinel registrou esse estilo de rimas(onde cada estrofe tem 10 versos nesta sequencia de rima: ABBAACCDDC  e cada verso tem sete sílabas) no seu livro "Diversas Rimas" de 1591, chamava de "redondilha". O nome Décima Espinela foi dado pelo seu genial seguidor: Lope de Vega(poeta e dramaturgo espanhol).

Vicente Gómez Martínez Espinel,
nascido na cidade de Ronda,
província de Málaga, Espanha em 1550 -
Falecido em Madrid, 1624



Espinel foi exaltado com vários elogios por seus conterrâneos, entre eles Lope de Vega e Miguel de Cervantes( ver poema "Canto de Caliope").

Porém um dos seus maiores estudiosos, o escritor e crítico literário, representante da Real Academia Espanhola Samuel Gili Gaya diz que essa estrutura  de versos já era utilizada pelo poeta, escritor e estudioso espanhol Juan de Mal Lara(Mallara) e outros; e de que Espinel na verdade aperfeiçoou e popularizou esse estilo já existente.(fonte: Gili Gaya, Samuel. Versos latinos de Espinel en alabanza de Guzmán de Alfarache  Nueva York: Columbia University, 1965..). Ver também artigo  na Revistas Académicas de La Universidad de Chile de autoria de Pamela Tala Ruiz:encurtador.com.br/nIKQU (clicar na primeira opção de pesquisa que aparecer no Google)

Juan de Mallara-
Sevilha-Espanha 1524- Sevilha 1571


O professor e estudioso espanhol Maximiano Trapero da Universidad de Las Palmas de Gran Canaria na Espanha, afirma no texto do  VI Encuentro-Festival Iberoamericano de la Décima y el Verso Improvisado. Las Palmas de Gran Canaria

(http://www.serraniavirtual.com/download/pdf/Vicente_Espinel%20la%20decima%20espinela%20y%20lo%20que%20de%20ellos.pdfde que não se conhece atualmente nenhuma décima original de Vicente Espinel, nem se sabe quantas eles fez...

Polêmicas a parte, eu na minha ignorância penso que alguém como Vicente Espinel (que não se autointitulou criador de nada) recebeu elogios rasgados de nada mais, nada menos do que Miguel de Cervantes e Lope de Vega, dois dos maiores gênios literários da humanidade !! Não precisa provar nada.


Polêmica 02:


Origem da palavra Payada:

1) Há uma versão que diz que a palavra Paya vem da lingua Aimará(Aimarás:povo nativo Chile, Bolivia, Peru, Argentina) e significa verso improvisado dito por dois payadores acompanhados de um violão ponteado(milonga).(http://etimologias.dechile.net/?paya   ver link final da postagem)

2) Outra versão diz que a palavra vem da língua Quíchua "Paclla"(língua nativa falada por diversos paises ao correr das cordilheiras dos Andes) e significa campesino simples que faz uma apresentação improvisada, rústica, sem muitos conhecimentos.(https://www.buenosaires.gob.ar/noticias/payadores-ii-origen-del-termino   ver link final postagem)

3) Há uma versão defendida pelo grande escritor argentino Ricardo Rojas,que deriva da palavra espanhol Payo que significa campesino do pago, "coisa do pago(campo), coisa terrunha(da terra).(https://www.autoresdeconcordia.com.ar/articulos/526  ver link finalpostagem)

4) Há também a versão do escritor e estudioso argentino sr. Saturnino Muniagurria, ele afirma veementemente que a palavra payador é originária da palavra Guarani Payé(pajé) e compara o feito da poesia semelhante ao que fazia o pajé da tribo ao realizar suas curas e milagres, como a dizer que o Payador curava os males com suas cantorias, igual ao pajé em suas orações...(https://www.autoresdeconcordia.com.ar/articulos/526    ver link final da postagem)


Bom, existem outras versões, porém ficarei só nessas quatro.


 pouco que compreendo, confirma o que antes eu já pensava: a arte da Pajada é uma das mais difíceis expressões artísticas existentes! 

Deixo aqui meus sinceros parabéns a todos "pajadores gaúchos" e "payadores da pampa gaucha" por manterem viva essa tradição de séculos da poesia de improviso no nosso continente!



Agora abaixo falarei sobre a homenagem que nós São Luizenses faremos ao mestre da pajada no Rio Grande do Sul:


Jayme Caetano Braun aprendeu a arte de recitar versos de improviso desde sua infância, na "acadêmia" poética familiar materna: Família Ramos

(clique aqui para saber mais:http://viniciusribeiroescultor.blogspot.com/2008/12/as-orgens-poticas-do-poeta-famlia-ramos.html) 

Seus versos eram em vários formatos, porém a partir do contato que teve com o poeta uruguaio Sandálio Santos em 1958, se especializou em décimas espinelas.

Fazia poesias, declamava versos de improviso solo e também a original Pajada ( que é de contraponto, onde um pajador contrapõe o outro em versos rimados). 

Mesmo sem ele próprio tocar instrumentos em suas apresentações(o que de certa maneira, ao meu ver, parecia dar maior destaque, centralizando a sua figura) sempre teve grandes guitarreiros(violonistas) amadrinhando suas obras.

Jayme improvisando ao som 
da milonga de Pedro Ortaça



De acordo com o que pesquisei Jayme fez apresentações de contraponto memoráveis: duas com o mestre uruguayo Sandálio Santos, uma com o grande Argentino Luna(veja final desta postagem o video) e duas com o também argentino Manuel Rosas (El Brujo). Se apresentou com maestria em todos os duetos(fazendo pajadas também em espanhol).


Porém o que mais marcou para nós São Luizenses e acredito que para muitos gaúchos foram as apresentações solos dele, versos de improviso, sem contraponto, sem confronto, em uma velocidade diferente, sem atropelo e nem a necessidade "superar" o outro. 


Por saudades dessa maneira cativante do Jayme se apresentar o Conselho de Turismo de SLG, o Conselho de Cultura de SLG   e  Secretaria de Turismo e Cultura-SLG vem anunciar que no próximo “Festival de Trovas e Pajadas de São Luiz Gonzaga” (realizado junto aos pés do monumento ao Pajador) será incluida uma nova categoria na modalidade de versos em décimas no Festival! Além da já existente Pajada, que é de de contraponto ou seja um pajador contrapondo o outro!

E receberá o nome: " Versos Improvisados" no estilo Jayme Caetano Braun!


Leia mais a baixo a justificativa:


Jayme Caetano Braun

Foi o maior representante gaúcho dessa arte terrunha do verso improvisado, tão característica dos países da pampa Gaucha.

Por muitos anos foi a ave solitária pelos céus da pajada, no Rio Grande do Sul.

Sua temática mesclava história do Rio Grande, das Missões, com reflexões e filosofias do homem campeiro. Opinava em seus versos sobre a vida, as coisas do pago e do mundo atual, sem perder o rumo que sempre foi contar e exaltar a história do seu povo.

Por muitos anos percorreu esse caminho sozinho, não por escolha, mas sim pela ausência de colegas nessa difícil arte.

Precisamente por esse motivo, foi manifestando uma linha sem contraponto, sem confronto, desenvolvendo de forma natural uma maneira mais elaborada de passar sua mensagem, de maneira mais filosófica e contemplativa.

Para homenagear esse Grande Mestre e em reconhecimento ao seu esforço e dedicação durante toda sua vida e para manter viva essa sua maneira encantadora de improvisar, que tanto marcou os palcos de São Luiz Gonzaga, os Conselhos de Turismo e de Cultura de SLG juntamente com a Sec. Turismo/ Cultura SLG e a administração Municipal vêm através deste comunicado lançar para o próximo “Festival de Trovas e Pajadas de São Luiz Gonzaga” (realizado junto aos pés do monumento ao Pajador) uma nova categoria a ser acrescentada na modalidade pajada no Festival: 

“Versos de Improviso" no estilo Jayme Caetano Braun

Esta nova modalidade consiste em:

-Apresentação individual na declamação dos versos de improviso(em décimas), ao som de milonga, violão.

-Tema será sorteado no momento.

-A apresentação será melhor avaliada(sem ser obrigatório) se conter uma linha temática mais histórica, filosófica e contemplativa.

-Não existirá primeiro lugar e sim os jurados selecionarão três trabalhos que melhor representem essa difícil linha temática. Esses três trabalhos receberão troféus, todos os participantes receberão certificados.


Obs: A modalidade clássica:"Pajada de contraponto" continuará existindo no Festival, que consiste na apresentação de dois pajadores demonstrando sua arte em versos intercalados! Onde um responde aos questionamentos do outro em forma de versos rimados e em décimas. Nesta modalidade sim, existe a classificação de 1º, 2º e 3º lugares!

Com entrega de belos troféus e certificados

2 Obs: Os troféus das duas modalidades da pajada, continuam com patrocínio cultura de: Vinícius Ribeiro escultor!


 

3 Obs Houve um outro dueto inesquecível do Jayme, quem me contou foi o seu Pedro Ortaça, que presenciou o encontro dele com o mestre da trova Gildo de Freitas no ano de 1976 na fazenda Santa Terezinha das Rosas do sr. Danton Ramos(tio do Jayme) hoje do seu filho sr. Juca Ramos. Na oportunidade Jayme improvisava em décimas e o Gildo respondia em trovas. Um encontro de gigantes que ficou apenas na memória dos que tiveram a honra de presenciar(lamentávelmente ninguém tinha máquina fotográfica,muito menos gravador no momento).  

Quer saber onde fica essa fazenda que considero uma nascente da poesia crioula do RS? Clique aqui vivente: http://viniciusribeiroescultor.blogspot.com/2015/07/as-duas-santas-na-terra-da-poesia.html


Pajada(poesia improvisada) feita pelo sr. João Maciel



Beverly Bassani-Presidente
Conselho de Cultura-SLG




Liandra Antonini-chefe cultura e
Luiza Caterine-secretária turismo e cultura-SLG





Carlos Sidnei-presidente conselho Turismo-SLG e
 Vinícius Ribeiro escultor






               

João Maciel-trovador e pajador são luizense





Texto abaixo publicado pela página oficial da Sec.Tur e Cult. SLG:


"As imagens não traduzem a importância do dia de hoje para a comunidade cultural.
A Praça Jayme foi o local para o lançamento da modalidade de Pajada estilo Jayme Caetano Braun.
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A terra do maior Pajador "finca a sua estaca" e marca o território da Pajada, com a inclusão da modalidade "Versos de Improviso" no estilo autêntico de Jayme, em que os versos são declamados em solo, sem contra-ponto, abordando a filosofia, a história, de forma contemplativa.
A ação cultural foi restrita, com a presença da equipe da Secretaria de Turismo (Secretária Luiza Caterine e Coordenadora de Cultura Liandra Antonini, Reni Rodrigues Lopes), do Conselho de Cultura (Presidente Beverly Bassani, Vice-Presidente Vinícius Ribeiro-escultor ), do Conselho de Turismo (Presidente Carlos Sidnei Ferreira) e do artista Pajador João Maciel, que ao final do lançamento declamou seus versos, emocionando o pequeno grupo.
A sugestão da modalidade criada foi de Vinícius Ribeiro, que apresentou aos Conselhos e Secretaria de Turismo, que tem a missão de documentar a criação.
É unânime que a Terra do Pajador deve ter o estilo Jayme Caetano Braun.
O ato integra as homenagens ao aniversário de 334 anos de fundação e 141 anos de emancipação de São Luiz Gonzaga."

https://www.facebook.com/turismosaoluizgonzaga



Obs: Crédito das fotos: Liandra Antonini.


Fontes palavras Payada:

https://www.buenosaires.gob.ar/noticias/payadores-ii-origen-del-termino

https://www.lanacion.com.ar/economia/campo/la-payada-un-arte-que-cautiva-y-sorprende-nid198699/

http://etimologias.dechile.net/?paya

https://www.autoresdeconcordia.com.ar/articulos/526

No site da Universidade Federal do RS(UERGS) há uma crítica literária profunda feita pelo grande escritor Jorge Luis Borges sobre "O Escritor argentino e a tradição" que merece ser lida por quem gosta desse tipo de assunto:

https://www.ufrgs.br/cdrom/borges/index.htm


Aqui abaixo a pajada do Jayme e Argentino Luna:




Na frente: Argentino Luna(violão) e Jayme.
Ao fundo, da esquerda para direita, só feras: José Cláudio Machado, Glênio Fagundes, Enio Rodrigues, Paulo de Freitas Mendonça, Gilberto Monteiro, Cenair maicá e Dante Ramon Ledesma.



Para saber mais sobre esse encontro de gigantes, veja a postagem no blog do amigo Léo Ribeiro onde o também amigo Paulo de Freitas Mendonça(pajador) faz o relato desse encontro histórico no início dos anos 80:

http://blogdoleoribeiro.blogspot.com/2016/03/sobre-o-cantor-argentino-luna.html


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