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quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

SALVEM os PAJADORES!


Uma raça quase extinta, essa dos "Pajadores do Rio Grande".

São raros e permanecem de teimosos naquela que é uma das mais difíceis Arte que existe e uma das menos valorizadas.

Tu sabe o que é um Pajador(Payador)?e como eles "nascem"?

E o que é uma pajada?? Saberia explicar, sem titubear?

Aqui abordo: -De onde se originou a pajada? -Qual diferença entre pajador, declamador e cantor? -Quem pode ser chamado de pajador? -Por que  Jayme optou pela apresentação individual? -Por que essa tradicional Arte, está prestes a "morrer" aqui no RS? -O que fazer para fomentar a Pajada no estado? e outros...

Se estes temas forem do teu agrado: vamos junto, unindo forças. 

Uma coisa te garanto: não vai mais "gaguejar", quando alguém perguntar sobre este tema, que tanto representa os gaúchos.

"Salvem os Pajadores do Rio Grande do Sul".

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Antes, uma rápida explicação: 

Neste ano, completo 20 anos de pesquisa sobre Jayme Caetano Braun. O maior pajador que esta terra produziu.


Comecei por necessidade profissional(fiz quatro esculturas dele) e publiquei a pedidos de parentes. Para corrigir erros existentes e amenizar nosso descaso com sua história.

Nunca almejei pegar "carona" na garupa do poeta. A obra dele é iluminada, fala por si só!

No seu centenário, ano passado, após várias entrevistas e palestras nas escolas(voluntárias, claro)notei que a maioria das pessoas pouco ou nada sabiam sobre a Pajada(inclusive quem é do ramo musical)...

Conclui que a melhor maneira para  homenagear Jayme Caetano Braun é exaltando a sua arte: a PAYADA. Por isso fiz este texto, que vais ler com atenção.

Ao lado, trecho entrevista rádio São Luiz, falando da "morte da Pajada",  29/07/2024:


Aqui a entrevista completa: 
https://www.facebook.com/radiosaoluiz/videos/379131298534444


Em 2021, já havia feito outro texto: "Pajada tem que ter Estilo". Na tentativa de trazer luz a um tema tão falado e pouco compreendido.  Não viu?? Muito interessante. Mas, Não veja agora, veja depois...

https://viniciusribeiroescultor.blogspot.com/2021/06/pajada-tem-que-ter-estilo.html


Agora retorno, numa linguagem de perguntas e respostas! 

Da mesma maneira que fiz, durante esses anos todos, falando com estudantes de várias idades.

Caneta e papel na mão? Vamos lá, então:

falando com os "veteranos" sobre a Pajada
Aos pés do Monumento Jayme em São Luiz Gonzaga-RS


É PAJADA, PAYADA ou a PAYA? Qual é o nome certo?

As três palavras estão certas. É como chamam a arte do verso crioulo improvisado na "Pampa Gaucha". 

No Brasil(RS) é conhecida como "Pajada", na Argentina e Uruguay de "Payada" e no Chile é conhecida como "Paya".


"No Brasil é conhecida como "Pajada", na Argentina e Uruguay de "Payada" e no Chile é conhecida como "Paya".

É considerada um "Patrimônio Cultural Imaterial do Mercosul".








Há "normas" que definem a arte da Pajada? 

Sim. Mas não se assustem, vamos ver quais são e quem criou elas.

Inclusive vamos conhecer algumas polêmicas que existem sobre o tema.

 

Como surgiu a Pajada?

Vejam,  tudo começa mesmo é com  o " VERSO IMPROVISADO(feito na hora/momento).

O verso improvisado, chegou na América Latina com os colonizadores espanhóis, porém existe desde a aurora dos tempos, não há como precisar sua origem...

Surgiu na antiguidade, com aqueles que contavam histórias, mitos, informações ao correr do caminho por onde passavam. 

O verso improvisado era a melhor maneira de conseguir a atenção do público e assim passar a mensagem. 


"O verso improvisado era a melhor maneira de conseguir a atenção do público e assim passar a mensagem."

Esses artistas passaram a ser chamados, bem mais tarde, de Trovadores.

Tiveram uma importância enorme, encantavam as pessoas, repassavam informações entre as localidades(coisa rara na época) e serviam como um registro das histórias, um arquivo da memória do povo, principalmente nas épocas onde quase ninguém sabia escrever.

Aqui no Brasil, o "Repente" nordestino, A "Trova" gauchesca e a "Pajada" são estilos do verso improvisado muito conhecidos.

                                

Gildo de Freitas-maior referência no verso improvisado
chamado "Trova"

No mundo todo existe vários estilos do improviso, uma das últimas modalidades é o Rap, que surgiu no movimento Hip Hop(início anos 70 em Nova York) como uma voz de protesto. 

                                             

Artista Rapper(movimento Hip Hop),
fazendo versos de improviso no estilo Rap


Para melhor compreensão, vejam os seguintes exemplos: 

No Repente nordestino as vezes usam a viola como instrumento e noutras o pandeiro, na Trova gaúcha usam o acordeão(gaita) e na pajada o instrumento clássico é o violão.

A musicalidade, a "batida" como vocês chamam, muda entre esses estilos, assim como as normas, mas a essência é a mesma: falar do seu povo em versos improvisados.

                                              


Mas quais são os registros mais antigos dessa arte? Do verso de improviso?

Só estudei até a Grécia, provavelmente existe registros mais antigos. 

Na Grécia antiga existiam dois tipos de oradores que merecem respeito: os RAPSODOS e os AEDOS. 

Os Rapsodos(nome meio estranho para nós) eram os DECLAMADORES, aqueles que recitavam as poesias épicas, principalmente a "Odisséia" de Homero(que vocês sabe bem, conta o retorno de Ulisses/Odisseu para casa após a guerra de Tróia). Uma coisa importante saber: O RAPSODO não escrevia as poesias, ele declamava com maestria a dos outros e se apresentava "sem instrumento musical". Na Grécia, tinha até concurso de melhor Rapsodo. Não é nada fácil para um declamador, manter a atenção do público "no seco", sem nenhuma música acompanhando...

Rapsodo, declamando em concurso,
sem instrumentos e com cajado à mão.



Os Aedos eram sim os que faziam os versos de improviso. É a referência mais antiga do verso improvisado que eu descobri. 


"É a referência mais antiga do verso improvisado que eu descobri."

Aedo com sua lira, declamando, cantando e fazendo versos de improviso


Eles iam contando histórias, interagindo com as pessoas pelos locais onde passavam, levando informações em forma de versos. Os Aedos se apresentavam com uma "lira", instrumento musical de cordas tipo uma pequena harpa.



Depois a poesia oral, tem destaque na idade média, através de vários tipos de artistas: 

BARDOS,  MENESTREIS, JOGRAIS, BOBOS DA CORTE... 

Vou falar de dois que acho muito interessantes:


Os Bardos eram os artistas que falavam a língua do povo, iam de cidade em cidade contando lendas, passando informações, alegrando as pessoas com seus versos improvisados. Eles se apresentavam com um instrumento musical chamado "alaúde"(tipo um avô do violão). Falavam dos temas universais do amor, da amizade e usavam da sátira para criticar a sociedade naquilo que achavam errado, acredito que nasceu aí os primeiros artistas a usarem seus versos como protesto, muito antes do Rap... 

Bardo, improvisador da idade média, com seu alaúde,
se apresentando diante plateia.




O Bobo da Corte(que de bobo não tinha nada), era o artista que permanecia junto ao Rei, tipo um "funcionário da corte". Geralmente era um grande mestre do improviso, também usava o alaúde como instrumento musical. Sabia caminhar sobre o fio da espada, pois media seus versos com prudência, distraia com alegria o Rei e até o criticava, mas com astúcia e sabedoria. Uma frase errada não era demissão e sim execução. Esse emprego era pra poucos...

Bobo da Corte era um grande improvisador


Tá, mas e a Pajada? Onde entra nisso tudo?

Calma, que agora começa o "BemBão". Tive que explicar isso antes, para chegar até aqui:

Os versos foram se aprimorando com os anos e chegaram até a famosa modalidade chamada: "Décima Espinela", considerada como  a "mãe" dos versos improvisados. 


Famosa?? Não conhecemos?

Não conhecem? Claro que sim, só nunca notaram antes.


A Décima Espinela é o  modelo clássico usado na Pajada. São feitos em DEZ versos/linhas(por isso se chama Décima), rimadas em determinado estilo. 


Mas o pajador só pode se apresentar em décimas? 

Não, porém é a mais clássica das estruturas e pra mim é a mais encantadora. Há casos que fazem contraponto(um contra o outro) em estrofes de quatro linhas(Quarteto), para dinamizar a apresentação. 

Teve um contraponto histórico no Chile em 1830,  foi entre os payadores "Mulato" Taguada e Javier de La Rosa e eles se apresentaram em versos quartetos, durante 80 horas.


80 horas?? Barbaridade...

Sim, virou um acontecimento histórico do desafio mundial em versos improvisados. 

E o desfecho é muito interessante... Depois pesquisem pra saber.



Agora para seguir no assunto, devo avisar vocês, que aqui começa a primeira polêmica!

 

É briga??

Não, não é briga, é discussão normal entre uns "cabeças pensantes".


Polêmica 01: 

"Sobre o surgimento da Décima Espinela? Foi com Vicente Espinel??"

Vicente Espinel, grande divulgador da "décima"


A "Décima Espinela", modalidade de versos utilizada na Pajada, leva este nome em homenagem ao seu divulgador Vicente Espinel, poeta, músico e escritor espanhol. Espinel registrou esse estilo de rimas(onde cada estrofe tem 10 linhas nesta sequencia de rima: ABBAACCDDC  e cada linha tem sete sílabas poéticas) no seu livro "Diversas Rimas" em 1591 e chamou de "redondilha"

O nome Décima Espinela não foi dado por ele, mas sim pelo seu genial seguidor: Lope de Vega(poeta e maior dramaturgo espanhol).

Espinel foi exaltado com vários elogios por seus conterrâneos, além de Lope de Vega,  Miguel de Cervantes(Don Quixote) e vários outros poetas e escritores...


Porém, um dos seus maiores estudiosos, o escritor e crítico literário, representante da Real Academia Espanhola,o catalão Samuel Gili Gaya, diz que essa estrutura  de versos já era utilizada pelo poeta, escritor e estudioso espanhol Juan de Mal Lara(Mallara) e outros; e de que na verdade, Espinel apenas registrou e popularizou esse estilo já existente.

        Samuel Gili Gaya gramático, linguista,
lexicógrafo, crítico literário e pedagogo espanhol.



O professor e estudioso espanhol Maximiano Trapero da Universidad de Las Palmas de Gran Canaria na Espanha, afirma no texto do  "VI Encuentro-Festival Iberoamericano de la Décima y el Verso Improvisado", de que se conhece poucas décimas produzidas por Vicente Espinel, nem se sabe bem ao certo, quantas eles fez na vida(além das oito estrofes que estão no livro "Diversas Rimas").

Maximiano Trapero, uma grande referência mundial da décima.
 Na foto, algumas de suas obras.


Polêmicas a parte, eu na minha ignorância penso que alguém como Vicente Espinel (que não se auto intitulou criador de nada) recebeu elogios rasgados de Miguel de Cervantes e Lope de Vega, dois dos maiores gênios literários da humanidade, não precisa provar nada.



Agora vamos para outra polêmica!


Mais uma??

Mas não se preocupem que é pouca coisa...


Polêmica 02:

"Sobre a origem da palavra Payada":


Existem várias discussões sobre a origem da palavra e isso não é de agora, vem de longe e vai mais longe ainda... 

Enquanto os estudiosos não se decidem, deixo aqui quatro versões(há mais) pra cada um escolher a sua:


1ª) Há uma versão e diz que vem da palavra "Paya" da lingua Aimará(Aimarás:povo nativo Chile, Bolivia, Peru, Argentina) e significa: verso improvisado dito por dois payadores acompanhados de um violão ponteado(milonga).

2ª) Outra versão diz que vem da palavra "Paclla" da língua Quíchua (língua nativa falada por diversos paises ao correr das cordilheiras dos Andes) e significa: campesino simples que faz uma apresentação improvisada, rústica, sem muitos conhecimentos.

3ª) Há uma versão defendida pelo grande escritor argentino Ricardo Rojas, que deriva da palavra espanhol "Payo" que significa: campesino do pago, "coisa do pago(campo), coisa terrunha(da terra).

4ª) Há também a versão do escritor e estudioso argentino sr. Saturnino Muniagurria, diz que vem da palavra Guarani "Payé"(pajé) e compara o feito da poesia semelhante ao que fazia o pajé da tribo ao realizar suas curas e milagres, como a dizer que o Payador curava os males com suas cantorias, igual ao pajé em suas orações...


Escolham uma para vocês e vamos em frente...


Agora vamos para última polêmica!


Outra?? Mas é virado em polêmica esse assunto?

Isso é normal, acontece até nas melhores famílias.


Polêmica 03: 

"Sobre a definição para ser um Pajador"


Então há uma definição para alguém ser chamado de Pajador(Payador)? Existem regras?

Sim! Apesar de que toda Arte é livre e não pode ser aprisionada, existem certas normas necessárias para a preservação da própria Pajada e eu chamo elas de "Acordo de Cavalheiros" entre os países da "Pampa Gaucha"(Argentina, Chile, Uruguai e Sul do Brasil).


Qualquer pessoa pode ser um pajador ou não?

Claro que pode, qualquer um pode, desde que tenha aptidão e muita dedicação. Assim é para qualquer coisa na vida, como por exemplo, ser um atleta olímpico, cientista, astronauta... 


Então todo cantor é um pajador??

Não! Essa pergunta é excelente, pois há muita confusão sobre isso.

O cantor canta músicas decoradas, o pajador improvisa no momento.

Para ser considerado um Pajador, é necessário algumas características, vou citar as que eu considero mais importantes:


1º) Pajador é aquele que recita versos de improviso(tem que fazer na hora, não pode ler e nem decorar)


2º) Os versos, habitualmente, são feitos em décima espinela(de dez linhas rimadas em estilo característico e cada linha com sete sílabas poéticas) em alguns confrontos utilizam versos de quarteto(4 linhas) para agilizar o embate.


3º) A apresentação deve ser acompanhada de violão ao som de milonga uruguaia(a milonga para o pajador é como o "berimbau para a Capoeira", ela "engraxa as engrenagens") ou "guitarron chileno"(primo da viola).

                                           

Payador Chileno: Hugo Gonzales, tocando seu Guitarron de 25 cordas

4º) O pajador nasce como uma voz de protesto e ele sabe da sua importância e responsabilidade, tem a liberdade de opinar com dignidade sobre qualquer assunto e sempre deve haver uma relação do tema com as coisas terrunhas(não haveria sentido uma pajada sobre "física quântica" ou "economia financeira" sem estar atrelada à realidade do pago).


5º) Apesar do pajador surgir antigamente como uma figura solitária, quase mística, que andava pela "pampa gaucha", a pajada hoje, é reconhecida como um pajador dialogando, respondendo em versos ao outro. No mínimo são dois(podendo ser mais: três, quatro, cinco...). 


6º) A pajada tem algumas modalidades: "Contraponto"(a mais famosa), "Pé forçado"; "Banquillo"... Cada uma com suas características.


Essa "regras" sempre existiram?

Elas são recentes, de algumas décadas.

Em séculos passados os "payadores" se apresentavam sozinhos e faziam versos de improviso em todo tipo de tamanho, não tinham normas, regras. 

Essa maneira solitária de fazer versos de improviso é a mais antiga de todas. Dela que se originaram todas as outras. 


" Essa maneira solitária de fazer versos de improviso é a mais antiga de todas. Dela que se originaram todas as outras."

Percorriam a Pampa Gaucha, tal qual faziam os Aedos gregos e os Bardos medievais, recitando seus versos e seguidamente se digladiando em confrontos com os artistas locais por onde passavam. Aparentemente eram livres, mas cada um tinha seu sistema próprio.

Ao mesmo tempo existiam alguns que faziam versos em décima espinela, acredito que pela sonoridade, pela beleza das combinações, aos poucos o gosto popular foi optando mais pela décima. Ao ponto dela ser escolhida pelos próprios artistas como representante da arte.

Pode parecer que as regras aprisionam a arte, mas no fundo elas a preservam. 


"Pode parecer que as regras aprisionam a arte, mas no fundo elas a preservam." 

Se não existisse  esse "acordo de cavalheiros" que citei, provavelmente a Payada estaria desfigurada. 

É melhor as normas serem aprovadas por um coletivo entendido do que deixar solta, onde cada um acrescenta ou tira o que bem lhe der na telha.



Meio complicadinho não é? Cheio de coisa?

São variações que foram surgindo com o tempo, isso sempre ocorre com qualquer Arte, não há como impedir. 

Todo estilo artístico tem variações e toda variação tem suas normas, isso sempre foi assim e sempre será.


Mas e se eu quiser recitar versos de improviso em outro formato? Eu Posso?

Pode! O artista é livre! 

Pode fazer versos de improviso de trinta linhas ou até de mil... 

Mas não vai jogar o jogo dos grandes. 


"Mas não vai jogar o jogo dos grandes"


Qual jogo, quem são os grandes??

Para exemplificar, cito um "jogo de futebol" que participei na infância, na aula de educação física, juntaram duas turmas e deu um jogo de 20 x 20 foi uma confusão atrás da bola. 

"É proibido jogar assim?? "

Não. Não é proibido. Pode jogar até 100x100, as pessoas são livres. Será "um jogo de bola" mas não será futebol. Quem quer jogar com os grandes tem que seguir as regras do jogo.

Os "grandes" que falo são os pajadores daqui e dos países hermanos.

Em todo estilo do verso improvisado tem regras: no "Punto Cubano" tem, no "Repente Nordestino" também, na "Trova Gauchesca" tem e até no "Rap" que vocês gostam, também tem. 

Apesar de toda Arte ser livre por essência, ela tem normas. 


"Apesar de toda Arte ser livre por essência, ela tem normas." 

Até as variações que por rebeldia fugiram das regras, criando novos estilos, ironicamente também tem regras...


O que é então a PAJADA? Pelo amor de Deus nos diga, em uma frase, o que falar caso alguém pergunte na rua?

Muito fácil! Anota aí tudo numa frase só:

"É o verso improvisado na Pampa "Gaucha". Onde dois pajadores opinam sobre as coisas do pago, recitando versos em décimas, ao som de milonga."


"É o verso improvisado na Pampa "Gaucha". Onde dois pajadores opinam sobre as coisas do pago, recitando versos em décimas, ao som de milonga."



Agora, se vocês querem melhor explicado(para os nerds):


Saibam que a pajada não pode ser lida, nem decorada, ela é feita no momento, de maneira improvisada.

Os versos podem ser cantados ou falados. Sim, pois existem pajadores que se apresentam cantando e outros falando.

O pajador deve agir com honradez. É a voz que opina por onde passa, alegra as pessoas e também protesta, porém unindo, sem prostituir seus versos. 

A Pajada pode ser de infinitos temas, o pajador tem a liberdade de discorrer sobre qualquer assunto, mas sempre seguindo uma linha mestra relacionada às coisas do pago. Seria algo estranho ver uma pajada com temas diversos sem estar relacionada às coisas terrunhas... 

Os versos, comumente, são na estrutura da "décima espinela" ou certas ocasiões em "quartetos"  e com acompanhamento de milonga uruguaia no violão. 

O Pajador se assemelha a um malabarista de facas, pois está de olho em várias coisas: métrica, rima e o principal: a mensagem.


Pajador se assemelha com um malabarista de facas...




E outra coisa, a mais importante: Os versos são entre dois ou mais pajadores, onde um contrapõem o outro. 


Entenderam?


Mais ou menos...

Mas também, como vão prestar a atenção? Eu falando e tem gente olhando o celular?


Capaz, era só uma mensagenzinha aqui...Tô bem atento.

Sei... 


Bom, agora prestem atenção nessa anunciada "morte", que tá prestes a acontecer:


"A Morte da Pajada no Rio Grande do Sul"

A Pajada é uma das Artes mais difíceis que existem, não há dúvidas disso. Hoje encontrar um pajador pelas ruas do estado é um feito raro, é um ser quase em extinção. Se vocês encontrarem algum deles pela rua, segurem e tirem fotos, pois os poucos pajadores que existem, permanecem de teimosos, uma teimosia que é fruto do amor deles pela arte. 


"Os poucos pajadores que existem, permanecem de teimosos, uma teimosia que é fruto do amor deles pela arte." 


Há um contrassenso nisso tudo: o Rio Grande se reconhece na poesia de improviso(vide a arte da Trova) mas não dá importância aos eventos, aos festivais.

Acredito que o  motivo de serem escassos os pajadores no Rio grande do Sul não é pela dificuldade na arte em si, mas sim pela inexistência de incentivo nela. 

"Acredito que o  motivo de serem escassos os pajadores no Rio grande do Sul não é pela dificuldade na arte em si, mas sim pela inexistência de incentivo nela. "

Talvez seja pelo fato da Pajada(como a Trova) não ser de berço nobre, "acadêmico" e sim uma manifestação popular, não sei...Só sei que isso não acontece nos outros paises "hermanos". Lá os eventos são mais numerosos e atraentes que aqui. Tanto pelo público que gosta, como pela valorização aos artistas. O fato da "Payada" ter mais força nesses países está diretamente relacionada ao apoio que eles sempre deram à cultura. Lá eles aprenderam a amar porque tiveram acesso a arte. Deram palco, com condições dignas, aos artistas.

Na história cultural do nosso estado, são raríssimos os festivais, podem pesquisar pra vocês verem que não estou mentindo e quando ocorrem eventos, a premiação para a Pajada é irrisória, risível. 

Como manter uma arte assim?? Como um artista vai se deslocar pelo estado, sem ao menos ajuda para o translado?

Disso nasce o desânimo dos artistas saírem de seus redutos e repartirem experiências; é a troca de experiência que fomenta e aperfeiçoa a Arte, não existindo isso, ela permanece em círculos cada vez mais restritos, até definhar totalmente e morrer.


"É a troca de experiência que fomenta e aperfeiçoa a Arte, não existindo isso, ela permanece em círculos cada vez mais restritos, até definhar totalmente e morrer."

"Homenagear os pajadores é exaltar sua Arte! Valorizá-la!"


Como se faz isso??

Muito simples, anotem aí três dicas de fácil aplicação:

1º) Incentivando eventos: festivais e mostras com premiações decentes

2º) Fazer seminários(trazer luz ao tema pouco conhecido)

3º) Criar um memorial estadual registrando a Pajada e seus representantes do Rio Grande, preservando a história fidedigna desses artistas.

Quanto mais o tema for valorizado, maior será o ingresso de novos Pajadores.

Caso contrário A Morte da Pajada no Rio Grande será questão de pouco tempo... 


"A Morte da Pajada no Rio Grande será questão de pouco tempo..." 

Deixo aqui meus parabéns a todos teimosos "pajadores e payadores da pampa gaucha" por manterem viva essa tradição de séculos da poesia improvisada no nosso continente!



Nos diga, há diferenças entre PAJADOR, POETA e DECLAMADOR:

Boa pergunta. Há sim!  

Pajador em essência é aquele que recita versos rimados no improviso(vide acima as outras explicações que definem um pajador). Os versos podem ser cantados ou falados normalmente, depende de cada artista.

Poeta é aquele que escreve a poesia, faz, desfaz e refaz. Com todo tempo do mundo. Pode escrever em décimas ou em qualquer outro formato, podendo ser rimada ou não.

Declamador é aquele que sobe ao palco e declama uma poesia já decorada. Pode ser sua(daí é um poeta e declamador) ou de outra pessoa.



Existem livros de Pajada? Disco de Pajada?

Pra mim, essa é a dúvida, que mais dá confusão na cabeça das pessoas.

Nunca esqueçam uma coisa: A pajada é  feita na hora e de improviso. Se não for feita na hora(no improviso) é outra coisa. É outra Arte.

A pajada pode ser gravada ao vivo tranquilamente e ser reproduzida em áudio e vídeo, há muitas apresentações no Youtube. Nunca viram?

O livro pode ser a mesma coisa, alguém transcrever fielmente uma pajada "que foi feita ao vivo" e reproduzir no livro como um registro do ocorrido

O que a maioria das pessoas confunde é chamar de Pajada um poema escrito em décima, quando é publicado ou declamado. No poema, o artista tem todo o tempo do mundo para escrever, apagar e reescrever sua obra, na pajada não, ela é feita no calor do momento.

Eu não posso subir num palco e declamar uma poesia gravada na memória e dizer que é uma Pajada. E nem pegar um papel no bolso e dizer: "Agora vou declamar para vocês, uma pajada que fiz." Isso não é pajada. É outra arte, também linda, que é a da declamação. 

Repito para que vocês não esqueçam:" A pajada é  feita na hora e de improviso"

Há outra coisa que vocês precisam saber, meus amigos: a maioria das pajadas de antigamente se perdeu no tempo, pois só eram gravadas na memória dos presentes

Hoje é fácil registrar os versos feitos de improviso, devido a facilidade dos aparatos modernos para gravar som e imagem. 

Vocês já se deram em conta disso??

É possível transmitir uma pajada ao vivo, para todo o planeta, em tempo real.

Antigamente não era fácil, por isso se perderam no tempo...





Se pajador é um contra o outro, por que o Jayme Caetano Braun se apresentava sozinho?

Essa pergunta vale ouro! Agradeço do fundo coração e respondo pra vocês assim:

Mas ia se apresentar com quem?? Se durante décadas era só ele no estado?


Mas ia se apresentar com quem?? Se durante décadas era só ele no estado?


Bom, então ele criou um estilo? tipo:" O Estilo Jayme Caetano Braun"?

Não, pois essa apresentação individual é a mais antiga de todas: é a mãe de todas.

Aqui no estado há registros do uso da décima. Artistas de antigamente que fizeram versos de improviso ou poemas escritos em décimas. Mas são raros... Dá pra se dizer que existia um esboço de trilha, mas não uma estrada, no estado.

Jayme abriu a picada na mão, sem facão, sem pretensão de criar um estilo, mas ao meu ver, com suas qualidades e características próprias, ele acabou sendo o próprio caminho. 


"Jayme abriu a picada na mão, sem facão, sem pretensão de criar um estilo, mas ao meu ver, com suas qualidades e características próprias, ele acabou sendo o próprio caminho." 


Por muitos anos foi o pregador solitário do deserto, a "única ave dos céus da pajada" no Rio Grande do Sul. 

Ele se apresentava sozinho não por escolha, mas sim pela ausência de colegas nessa difícil arte.

Precisamente por esse motivo, de não ter um parceiro para fazer contraponto, foi manifestando uma linha de improviso mais lenta, sem confronto, mais filosófica e contemplativa.

Desenvolveu, de forma natural, uma maneira mais elaborada de passar sua mensagem. 


"Desenvolveu, de forma natural, uma maneira mais elaborada de passar sua mensagem." 

Mesmo após o surgimento de colegas pajadores no estado, Jayme, por vontade sua,  permaneceu se apresentando sozinho, até o fim da vida e sinceramente compreendo ele.

A pajada de contraponto é uma obra compartilhada, há que se respeitar o tempo, o espaço e o horizonte do outro e  inevitavelmente ela leva ao confronto, onde há a necessidade, mesmo que inconsciente, de um superar o outro. 

Não que o Jayme não gostasse do embate, muito pelo contrário, ele nasceu para o confronto, cresceu nesse ambiente, desde criança vivia de confronto nas tertúlias dos galpões da família Ramos(eu sei disso, toda a família era assim) e depois em apresentações em palcos improvisados pelos rincões. 

"Não que o Jayme não gostasse do embate, muito pelo contrário, ele nasceu para o confronto..."


Jayme poderia ter seguido fazendo apresentações de contraponto com os "payadores" dos outros paises, como já havia feito, mas não o fez porque simplesmente não quis. Não era o que ele buscava...

Não tenho dúvidas de que se ele realmente continuasse no caminho do contraponto, seria a maior referência da Payada também nos países hermanos, assim como é para nós. 

Mas por sua própria escolha decidiu permanecer se apresentando individualmente. E repito, eu o compreendo muito bem e no lugar dele faria o mesmo. Uma obra solitária o artista faz ao seu tempo, conduz sua mensagem, leva ela para o lugar que deseja.

"Uma obra solitária o artista faz ao seu tempo, conduz sua mensagem, leva ela para o lugar que deseja."


Toda a arte é bela e necessária, o contraponto, assim como a apresentação individual são manifestações lindas da mesma arte, porém levam para caminhos totalmente diferentes. 

O caminho que o Jayme almejava era além do horizonte. É lá que ele se encontra, servindo de referência...


"O caminho que o Jayme almejava era além do horizonte. É lá que ele se encontra, servindo de referência..."

Ao trilhar essa estrada, mesmo sem saber, Jayme Caetano Braun, passou a ser a luz que ilumina a todos nós. Servindo de guia para os que estão iniciando, tropeçando no escuro e como farol orientador para os que se perderam e vem em busca da estrada perdida.



E ele fez pajadas de contraponto? Com quem?

Sim, espetaculares! Não conhecem?? Tem algumas dessas pajadas na internet.


Jayme fez apresentações de contraponto memoráveis: duas com o mestre uruguayo Sandálio Santos, uma com o grande Argentino Luna e duas com o também argentino Manuel Rosas (El Brujo). Se apresentou com maestria em todos os duetos(fazendo pajadas também em espanhol). E também fez uma apresentação com Gildo de Freitas(o maior mestre da trova gaúcha) na Fazenda Santa Terezinha das Rosas, de propriedade da Família Ramos, na Timbaúva-Bossoroca em 1974. Gildo fazia os versos em estilo de trova tradicional e o Jayme respondia em décimas. Algo inédito e assistido por poucos sortudos...

Jayme  fez várias apresentações com outros artistas, em eventos, palcos por onde se apresentava. Na campanha politica de Getúlio Vargas em 1950, Jayme se apresentava nas localidades em dupla com o trovador "Garoto de Ouro"; na campanha politica a deputado federal do primo dele Ruy Ramos, seguido acontecia de ter embates com artistas pelos locais do estado por onde passavam. Isso foi na década de 50, os versos dele não eram em décimas ainda, mas as peleias eram sempre de saltar faísca. 

Seus versos, no princípio, eram em vários formatos, porém a partir do contato que teve com o poeta uruguaio Sandálio Santos em 1958, se especializou em décimas espinelas. Ele não teve dificuldade em dominar a difícil estrutura da décima, na verdade ele nasceu para ela... 



"Ele não teve dificuldade em dominar a difícil estrutura da décima, na verdade ele nasceu para ela..."


O Jayme era diferenciado ou as pessoas exageram?

Exagero? A obra dele fala por si só. Ele foi grande não por ser pioneiro, mas por ter um raro conjunto de qualidades que o transformaram, mesmo em vida, em um símbolo do Rio Grande. 

Anotem aí:

1º) Era um artista completo: 

a) Escrevia poesias; 

b) Declamava excelentemente(até declamou de outros, como o caso da poesia "Tubiano Capincho" de Aureliano de Figueiredo Pinto, no disco "Payador Pampa e Guitarra")

c) Improvisava em contraponto(um contra o outro) e principalmente sozinho(o que ele mais gostava).


2º) Tinha domínio natural do palco(se "agigantava" quando estava no palco)


3º) O fato de se apresentar sem instrumentos, centralizava a sua figura(dando-lhe destaque), 


4º)Tinha um raciocínio rápido(fruto dos embates desde criança com os versos improvisados), 


5º) Lia muito e sobre tudo(o que lhe deu uma vasta bagagem cultural) 


6º) E o importante: tinha a experiência da vida campeira, a sua mensagem era verdadeira(as coisas do campo não lhe eram estranhas em nada).


7º) Jayme era obcecado, fanático por fazer versos, sua dedicação veio desde criança, ao presenciar os parentes da família Ramos fazendo versos a torto e direito, a toda hora. Essa dedicação, pode se dizer religiosa, permaneceu com ele a vida toda.


Resumindo meus amigos: dificilmente nascerá outro parecido, com todas essas qualidades em um só ser.


"dificilmente nascerá outro parecido, com todas essas qualidades em um só ser."




É verdade que foi criada uma nova modalidade no Festival de Pajada em São Luiz Gonzaga? Como ela é? 


Sim. E foi denominada de:

" Versos em Improviso estilo Jayme Caetano Braun

no Festival de Trovas e Pajadas do Município SLG.


Nova modalidade no festival de Pajadas em São Luiz Gonzaga:
"Versos em improviso estilo Jayme Caetano Braun"




Sugerimos aos Conselho de Cultura e Conselho de Turismo de São Luiz Gonzaga, sendo aprovado em reuniões e posteriormente comunicado ao Poder Público Municipal, via Secretaria Cultura e Turismo, a criação desta nova modalidade que consiste em:


-Apresentação individual na declamação dos versos de improviso(em décimas), ao som de milonga, violão.


-Tema será sorteado no momento.


-A apresentação será melhor avaliada(sem ser obrigatório) se conter uma linha temática mais histórica, filosófica e contemplativa.


-Não existirá primeiro lugar e sim os jurados selecionarão três trabalhos que melhor representem essa difícil linha temática. Esses três trabalhos receberão troféus, todos os participantes receberão certificados e premiações.






Bom, amigos, aqui termina nossa conversa, espero ter ajudado um pouco sobre a Pajada. 




Caso queiram se aprofundar no tema, indico o livro "Pajador do Brasil" escrito pelo poeta e pajador Paulo de Freitas Mendonça, um grande divulgador da arte.


Livro Pajador do Brasil(bilingue)
Paulo de Freitas Mendonça



Até o momento, quantas esculturas já fizeram em homenagem ao Jayme Caetano Braun? 

Três! Feitas por mim(Vinícius Ribeiro escultor)

Na verdade são quatro se contar a maquete para o pórtico de 2002.


Que pórtico??

Não sabem da história? 

Depois eu conto. Venham aqui outro dia, que falarei dessa novela...


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Para encontrar as referências sobre os assuntos aqui abordados, favor buscar nos links da lateral direita deste blog(no celular usar versão Web).





sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Minha história com Sepé

 


 Se não contares tua história, 

outros contarão por ti! 


Resolvi então, contar a minha com Sepé Tiaraju!

Faço por obrigação, como registro profissional e por medo que outros distorçam ou escondam as  diversas ações em prol de Sepé Tiaraju que realizamos em São Luiz Gonzaga, RS.


Resumo desta postagem: 

-Como foi criada a escultura do Sepé em São Luiz Gonzaga e seus vários modelos anteriores.

-A luta para nomear o prédio da Prefeitura SLG de: "Paço Sepé Tiaraju"

-A reativação da Comenda Sepé Tiaraju em SLG.

-A novela sobre pórtico Sepé para trevo principal de São Luiz Gonzaga.


                                   

Fiz a escultura em homenagem a Sepé Tiaraju em 2006 e até hoje tenho que provar que fui eu... 






Além de ser colocado em dúvida, tive esse trabalho "plágiado" várias vezes. Veja no final desta postagem os casos de plágio e "homenagens".







Essa escultura dei o nome :"Sepé Tiaraju São-luizense e Missioneiro" encontra-se atualmente em frente ao prédio da prefeitura de São Luiz Gonzaga, região das Missões do Rio Grande do Sul, Brasil.


Prédio prefeitura São Luiz Gonzaga
"Paço Municipal Sepé Tiaraju"
Foto: Larissa Dorneles
Foto: Larissa Dorneles



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COMO TUDO COMEÇOU: 

 

1º) O primeiro modelo de Sepé que fiz para São Luiz Gonzaga, foi em janeiro de 2002 

Em dezembro de 2001, o prefeito da época sr. Jauri Gomes de Oliveira, através do secretário Nivaldo Amaral solicitou ao Centro de Criatividade São-luizense um artista que pudesse fazer maquete do Sepé Tiaraju, pois almejava realizar um pórtico na entrada principal da cidade com as estátuas do Sepé de um lado e a do Jayme Caetano Braun no outro! Soube mais tarde que haviam entrado em contato com um escultor renomado, porém disseram que o valor era exorbitante.

A pedido da presidente do Centro de Criatividades São-Luizense, saudosa sra. Néli Bremm, realizei os primeiros rascunhos para a maquete do futuro pórtico. Veja abaixo. 

Primeiros rascunhos da maquete. Dezembro de 2001




Desses rascunhos, realizei a primeira versão, aqui abaixo, reconheço que ficou estilizada demais, muito "futurista".



Primeira versão para o pórtico janeiro 2002: 52 cm altura x 13 cm largura,
realmente ficou muito estilizada.


A administração achou bonita(foram educados), porém queriam algo mais rústico, mais "pé no chão".  Então passei para o segundo modelo:




 2º) O segundo modelo de Sepé que fiz, foi em fevereiro 2002: 

Fiz imediatamente uma segunda versão, confesso que ficou "exageradamente rústica", vide abaixo...


2ª Versão para o pórtico, fevereiro de 2002: foto Clio Luconi


Este segundo modelo foi aprovado e divulgado na imprensa municipal e depois estadual.




27 e 28 abril 2002







Bom, apesar da excelente acolhida por parte da administração municipal e imprensa, a proposta não prosperou...Vontade sei que havia por parte do prefeito, Seu Jauri era grande admirador e divulgador do meu trabalho, porém não conseguiu êxito na reeleição e a escultura não "levantou vôo".

projeto foi apresentado três vezes para a antiga administração: 2002, 2003 e 2004(tenho as cópias guardadas) e depois a 4ª vez(em 2005) levei para a nova administração, do prefeito Aguinaldo Caetano Martins(vide mais abaixo). 


Projetos entregues nas seguintes datas: 

1º) Abril de 2002

2º) Abril de 2003

3º) Abril de 2004

4ª) Agosto de 2005 





3º) O terceiro modelo de Sepé que fiz, foi em 2005: 

Em 03 de agosto de 2005, com o projeto embaixo do braço, procurei o então prefeito, sr. Aguinaldo Caetano Martins para explicar a importância de Sepé Tiaraju para São Luiz Gonzaga. Exaltei com todos argumentos possíveis, alertando que perderíamos Sepé, caso não fizéssemos algo o quanto antes. Pois em 2006 seria comemorado os 250 anos da sua morte e algumas cidades estavam organizando homenagens. O Prefeito concordou, o contrato foi finalmente assinado em 30 novembro de 2005, porém, para que isso acontecesse, tive que cobrar apenas o valor de custo da escultura... 

Apesar de ser apenas o valor de custo, tive que fazer um empréstimo na SALUSA(Salusa Participaões s/c), pois a prefeitura juridicamente não poderia adiantar nada.

As vezes se perde num lado e se ganha no outro: ganhei em divulgação e principalmente em satisfação! 

O mais importante de tudo: cravamos uma lança no chão determinando que o Sepé mito, era filho da nossa terra de São Luiz Gonzaga. 





Nesta versão, modifiquei a posição da lança e fiz a maquete um pouco estilizada, para exaltar a figura do Mito e não do Histórico, pois fui "desaconselhado" a fazer a escultura do Sepé, diziam que Sepé era lenda e folclore(veja mais abaixo sobre isso)Então me veio a ideia de exaltar o Sepé mito. 

Fiz com vestes primitivas, primeiro para evocar a força de seus antepassados naquele difícil período da Guerra Guaranítica, representando a mescla de sentimentos vividos na época: 

1º) a sensação de impotência diante ao Tratado de Madrid;

2º) a decepção pela traição do rei da Espanha em assinar o tratado; 

3º) o abandono oficial dos Sete Povos orientais pela própria ordem Jesuítica; 

4º) a falta da união entre os 30 povos missioneiros...

Por isso fiz Sepé quase pelado, para representar que na verdade não tinha muita coisa, restaram a resistência e a defesa do seu lar.

Em segundo lugar, fiz com vestimentas primitivas, para diferenciar da bonita escultura do Sepé histórico existente no pórtico da cidade de São Miguel das Missões-RS, com vestimenta militar, botas, espada e tudo... Localizada no trevo de acesso da cidade, perto da BR 285. Obra do grande escultor Tadeu Martins

Sepé Tiaraju histórico, do escultor Tadeu Martins






Nesta minha terceira versão é a primeira vez que a lança está apontada para baixo. Em primeiro plano, dei ênfase propositadamente  à Cruz cristã. Há toda uma explicação para isso.

"A Cruz acima da Lança" é o subtítulo da obra. Significa que Sepé não buscava a guerra e sim a paz(vide final postagem para entender). 


Iniciei a obra em dezembro de 2005 e terminei em março de 2006. Sendo inaugurada em bonita cerimônia(veja fotos abaixo) no dia 19 abril de 2006(dia do Índio).














Foto Bila Trauer, local: Trevo principal 
São Luiz Gonzaga-RS







Matérias estaduais referente a inauguração:







jornal A Notícia













A mudança de lugar da escultura: do trevo para prefeitura.



No início do mês de maio de 2011, recebi com surpresa o comunicado do vice prefeito da época, sr. Mário Meira, de que o DNIT(Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) solicitou a remoção da escultura, alegando que era necessária, devido as modificações no trevo principal da cidade, na BR 285. Temendo que a escultura fosse levada para um  local inapropriado ou "temporariamente" em local ignoto, encaminhei um abaixo assinado com entidades culturais da cidade, pedindo que a obra fosse então colocada em frente ao prédio da Prefeitura(vide abaixo assinado), o que foi muito bem aceito pela administração.






 


Em 24 de maio de 2011 a escultura foi transladada do trevo para o prédio da prefeitura de São Luiz Gonzaga. 












A imprensa estadual sempre divulgou nosso Sepé

 


Retirada da escultura do trevo principal.




Chegada da escultura em seu novo local: frente Prefeitura SLG, com Cássius Ribeiro.



Já em novo e definitivo local, a administração confeccionou um pedestal e placa de aço com informações(vide abaixo).






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Abaixo algumas das perguntas que me fazem sobre a escultura do Sepé:


1ª)De onde tirei a ideia do braço levantado do Sepé que fiz?

Eu gravo na minha memória, imagens, cenas, posições das pessoas no cotidiano... 

Isso desde criança até hoje. Antes eu não entendia o motivo, hoje sei.

Na minha infância, aos 10 anos de idade em 1978, assistindo jogo seleção Brasileira copa da Argentina, Brasil x Suécia, vi o golaço do Reinaldo(lenda do Atlético Mineiro), me chamou a atenção a maneira diferente de comemoração, com punho levantado e com tanta energia represada, claro que na época não entendia porém aquilo me encantava. Depois vi varias vezes ele comemorando assim(Canal 100 no cinema Cine Lux, antes da exibição dos filmes), era diferente do Sócrates que também teve época que comemorou com o punho levantado como sinal de protesto, só que a do Reinaldo era diferente, a do Dr. Sócrates era uma mensagem de protesto contra os cartolas do futebol e também contra os rumos da política daquela época. A comemoração do Reinaldo era como uma alegria infantil contida momentaneamente.

Então fiquei com aquela imagem na memória, como tantas outras imagens de gestos e expressões que vi e ainda hoje vejo no dia a dia. Quando posso fotografo, recorto, salvo, porém a maioria guardo mentalmente. Muitas dessas imagens serviram e ainda servem de inspiração para minhas esculturas.

Lembrei dessa imagem no momento que estava fazendo os primeiros esboços do Sepé, em dezembro 2001.







Reinaldo e o punho levantado...

Diferente da mensagem de 

protesto dos panteras negras ou

do dr. Sócrates, Reinaldo passou

pra mim uma alegria contida, 

controlada, prestes a explodir.


Veja o que o jornalista José Grisólia Filho disse sobre essa posição da mão:


2ª)Por que fiz Sepé estilizado e não real?

Porque quando fui buscar informações sobre o Sepé em dezembro de 2001(naquela época eu não tinha tanto acesso à internet), pensei logo no melhor local para isso que é o Instituto Histórico São-Luizense.

Lá chegando reencontrei minha antiga profª de estudos missioneiros, a saudosa professora Ana Olívia do Nascimento(falecida em 2023), uma referência histórica no estado RS. Falei para ela a intenção do prefeito Jauri em fazer a escultura do Sepé e precisava de informações históricas. A professora Ana sempre foi franca e honesta comigo e a todos os que ali iam buscar informações. Ela não era adepta da homenagem e nem do Sepé, achava Sepé um mito, um exagero. Desde o início ela deixou isso claro e sempre a admirei pela grandeza de falar as coisas pela frente. Eu compreendi as razões dela e respeitei, confesso que após nossa conversa resolvi exaltar a figura do Sepé mito e não do histórico. Então surgiu a figura do Sepé super estilizado e outros modelos como citei acima...

Com o tempo a professora Ana Olívia foi mudando a sua opinião com relação ao Sepé, não digo que eu fui o responsável por isso, porém acho que ajudei um pouco, veja o vídeo abaixo, nas palavras dela, quando recebia a Comenda Sepé Tiaraju com a medalha que criei, no evento no Paço Municipal Sepé Tiaraju(nome que também ajudei a denominar).


Ana Olívia do Nascimento, professora e historiadora
a Alma do Instituto Histórico de SLG, recebendo do prefeito
Sidney Brondani a Comenda Sepé Tiaraju
na edição do ano de 2018.


 A comunidade cultural de São Luiz ficou muito abalada com a partida repentina da professora Ana, ela era um dínamo, uma bateria gigantesca que impulsionava e continuará impulsionando o seu tão amado Instituto Histórico e Geográfico São-luizense.



3ª)Por que fiz Sepé segurando a cruz cristã e não a missioneira?


Me perguntaram isso e esclareço que fiz ele segurando a cruz cristã(apesar de eu ter feito totalmente estilizada) pois Sepé era cristão, assim como seus pais e avós, eram guaranis cristianizados já de gerações. Inclusive ele tinha uma cruz consigo quando foi morto três dias antes da batalha de Caiboaté em 07 fevereiro 1756(local onde hoje é o município de São Gabriel-RS)

A cruz que atualmente chamamos Missioneira, na verdade chama-se Cruz de Caravaca, e é originária da cidade de Caravaca, região da Múrcia, Espanha; não era um símbolo oficial da igreja e nem da ordem Jesuítica. Alguns padres que vieram daquela região reproduziram ela aqui, desenhavam ela em documentos, mapas e até esculpiram em pedra(como a que está em São Miguel das Missões). Não sei dizer por qual motivo esses padres faziam isso, talvez como saudosismo de sua terra ou outro motivo que desconheço, o fato é que não era um símbolo comumente usado. Diferentemente dos dias atuais que sim representa a região das Missões.

Da minha parte quis exaltar que Sepé não buscava a guerra, defendia seu lar, de que apesar de ser cristão, não defendia a ordem Jesuítica ou a igreja católica, longe disso, defendia sim a sua gente e o direito adquirido a viver nessas terras que já eram originárias dos guaranis e não bastando isso pagaram por mais de cem anos altos impostos à coroa da Espanha para permanecerem aqui como reduções. 

Por isso a cruz cristã acima da lança! Como um símbolo de paz, ele queria a paz, o diálogo, porém a lança firme estava a postos, era um direito seu a defesa. 

Eu usei o simbolismo original da cruz cristã(que é muito anterior à igreja católica) que é do sacrifício voluntário: Onde o grão é sacrificado para que nasça a semente.

Os guaranis eram místicos, religiosos, muito antes de conhecerem os jesuítas, vide sua busca milenar pela Terra sem Males, foi precisamente essa atração pelo ritual, pela liturgia que eles permaneceram juntos com a ordem jesuítica. A Arte pode ter sido o primeiro contato da ordem jesuítica para atrair os guaranis primitivos, porém pra mim, foi a liturgia que manteve eles até o fim, basta ler o diário de guerra do padre Tadeu Henis, para compreender isso.

Sepé, respeitava a cruz cristã como símbolo máximo da fé ao qual ele pertencia. A sua luta, assim como todos os demais guaranis que participaram da resistência diante ao Tratado de Madrid era em defesa do seu lar e não precisamente da ordem jesuítica e muito menos da igreja católica. Isso parece ser paradoxal, mas precisamente é aí que se encontra toda a resposta pelo fato da Guerra Guaranitica ter ocorrido. Eu já escrevo sobre isso neste meu blog, faz anos, mais de década: os reis não estavam trocando terrenos quando assinaram o tratado de Madrid, não queriam trocar as missões Orientais(região Missioneira atual RS) pela Colônia do Sacramento(Uruguay), estavam sendo induzidos por mãos ocultas a eliminar a Ordem Jesuítica e o medo que aqui poderia nascer, não apenas uma nova nação, mas sim uma nova religião, cristã porém livre de Roma.

A ordem Jesuíta tinha muitos desafetos dentro da própria igreja Católica, não sei os motivos verdadeiros se era medo, ciúmes, porém sinto(não tenho documentos ainda, para provar), que tinha uma mão sinistra manipulando os dois reis para a eliminação dos jesuítas. O motivo verdadeiro do tratado de Madrid não era a troca de terrenos, mas sim eliminar a ordem Jesuítica e os Guaranis que estavam no meio de tudo isso pagaram o preço com a vida. Após a Ordem jesuítica surgir ela rapidamente alçou grau de destaque entre as demais pela disciplina e inteligência, contrapondo uma famosa e antiga ordem que era então detentora desse título, porém esteve envolvida ferrenhamente com a inquisição e foi perdendo seu prestígio devido a muitas acusações de crimes bárbaros. Eu sinto que a raiz do Tratado de Madrid está precisamente nesta gangorra de vitrine das ordens religiosas da igreja católica daquela época.

Se fosse só uma troca de terrenos, seria muito simples, bastaria trocar os jesuítas espanhóis dos Sete Povos orientais por jesuítas portugueses e que as reduções seguissem seu curso de prosperidade, sem necessidade da expulsão das pessoas que aqui nas reduções viviam em harmonia. 

Porém não era isso, tinha muito caroço no angú e os missioneiros ,atônitos, pagaram o preço com a vida.


Veja o poema que fiz sobre isso em 2007:



 

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Os Defensores de Sepé: 

Nós do Atelier de Artes Los Libres, criamos em 2009 um grupo denominado Defensores de Sepé(vide foto abaixo), onde  organizamos várias ações para consolidar Sepé em São Luiz Gonzaga. 




O Paço Sepé Tiaraju:

Uma dessas ações foi a de denominar o prédio da Prefeitura da cidade com o nome de "Palácio Sepé Tiaraju". Realmente não foi fácil, apesar de ser algo simples e sem custos para a administração. A ideia partiu do amigo, saudoso José Renato Moura. A pedido dele, discreto como sempre, não divulgamos que a ideia era sua. Havia outros motivos também para isso... O fato é que através do Atelier Los Libres, encaminhamos o ofício para a administração da época, porém não obtivemos êxito. Na verdade não obtivemos nenhuma resposta. Veja aqui a novela e saiba quem foram as pessoas que ajudaram a realizar essa homenagem:

http://viniciusribeiroescultor.blogspot.com/2015/12/abrindo-o-paco.html

No final deu tudo certo e foi aprovado por lei a ideia do José Renato e o prédio oficial da prefeitura passou a se chamar não palácio e sim "Paço Municipal Sepé Tiaraju". Concordamos com a sugestão do então prefeito Junaro Rambo Figueiredo de trocar palácio por Paço, no fundo significam a mesma coisa, porém evita a flauta dos gaiatos de plantão que nada entendem, nada fazem de bom e tudo criticam.

Jornal A Notícia 15 dez 2015



Ata Câmara vereadores SLG criando
lei Paço Sepé Tiaraju




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Qual diferença do Sepé mito x histórico? 

No histórico ele está com as vestes militares usadas na época pelo contingente guarani, casaca, calça, bota, dragonas e outras coisas. No mito há (graças a Deus) a liberdade artística de cada um. No meu caso quis salientar que Sepé buscou nas vestes dos seus antepassados a força para superar não só o forte exército português, mas também a surpresa de ter que combater o exército espanhol até então "amigo" e a dor maior do abandono de muitos padres jesuítas com relação aos sete povos orientais. Por isso fiz ele com aquela roupa ou quase sem roupa, poderia até fazer ele totalmente pelado, pois no relato do diário de guerra do padre jesuíta Tadeu Xavier Henis, ele conta que Sepé fugiu do forte de Rio Pardo a cavalo em pêlo e pelado. 

Esclareço isso pois até hoje sou questionado por alguns historiadores. Como se a arte fosse subordinada às regras e normas da academia. A arte pode e é importante ter embasamento histórico, mas não é algo obrigatório. Isso é óbvio, nem precisa ser dito. No entanto toda a minha versão é com informações históricas, com artefatos realmente usados pelos guaranis porém de um período anterior às reduções. Como por exemplo:


1º) O Tembetá, osso cravado no lábio inferior do guerreiro, símbolo importantíssimo para os guaranis primitivos, de proteção espiritual e também de maturidade, que após a cristianização foi abolido pelos jesuítas. Coloquei na minha versão de Sepé sim.

Tembetá que fiz...



Guarany(chiriguaná) com seu tembetá






Tipos de tembetá


O Tembetá era um símbolo importante para o guerreiro Guarani e o Cacique Oberá, o grande profeta guarani, tentou reativar esse ritual após se rebelar contra os espanhois dominantes dos anos de 1579. A história desse cacique é espetacular, para saber um pouquinho, veja aqui a postagem que fiz: 

"Sepé e seus irmãos" 

https://viniciusribeiroescultor.blogspot.com/2015/02/sepe-e-seus-irmaos.html


2º) O Tetymakuá, atado existente nas pernas e braços do guerreiro, feitos com cabelos da jovem índia após sua primeira menstruação, cortados pela avó em ritual de passagem da infância(esta explicação foi dada por cacique de aldeia guarani mbya do Paraná, programa TV Cultura)



Guarani mbya com seu tradicional atado nas pernas:
Tetymakuá.  Foto retirada do livro:
"As Divinas Palavras Guarani Mbya" do antropólogo Aldo Litaiff


Quem quiser saber mais informações sobre Tetymakuá, favor procurar nos livros: 

"História do caminho de Peabiru" da escritora e jornalista Rosana Bond 






e "As Divinas Palavras Guarani Mbya" do antropólogo Aldo Litaiff.





Há uma outra versão sobre a origem do cabelo ao qual fazem o Tetymakuá

O antropólogo Aldo Litaiff, no seu livro "As Divinas Palavras Guarani Mbya"entrevistou o cacique Verá Mirim da aldeia guarani mbya do Sertão do Bracuí, Angra dos Reis-RJ, diz ele que é feito do cabelo da sogra e atado por ela.

 Eu, com todo respeito às sogras, prefiro ficar com a versão do cacique do Paraná, ao qual ouvi a entrevista...




3º) A roupa primitiva, um pedaço de couro, com certeza foi a primeira veste antes de qualquer tecelagem.


Desenho de Diego Duarte Colman, onde os guaranis pré reduções
estão reunidos. Nele dá pra ver as vestes de couro.


A roupa que fiz, um pedaço de couro
(aqui no caso, estilizado)



4º) A boleadeira, utensílio característico dos Charruas, mas também de conhecimento e domínio dos guaranis primitivos. 





A boleadeira que fiz.


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O tão sonhado Pórtico:

Como falei no início desta postagem, o sonho do pórtico vem desde 2002(veja lá no início, os 4 projetos encaminhados sem sucesso).

Participei de várias reuniões, durante anos, para tratar sobre este tema. 

De 2011 pra cá, São Luiz Gonzaga perdeu no mínimo quatro verbas parlamentares para a realização do pórtico(somando com os outros projetos antigos: são 8 vezes sem sucesso). Sei de todos os motivos. Não vem ao caso citar. 

Só sei que verba não aproveitada é rapidamente repassada para outro município. Enquanto perdemos, nossos vizinhos constroem lindos pórticos. 

Nos últimos projetos apresentados, criei duas versões novas da escultura do Sepé. São versões mais realistas, menos estilizadas que as versões do ano 2002 a 2006.




1ª maquete (mais realista) para pórtico SLG
monumento 6 metros 


2ª maquete(mais realista)para pórtico SLG 
monumento 6 metros








A Notícia 13 e 14 agosto 2011









Uma das várias reuniões, com entidades e artistas 
debatendo sobre o pórtico-agosto 2011



Com Mário Meira(C) e Arno Schleder(D)






Abaixo, uma das propostas apresentada:






Amigos que vieram ao meu socorro(gratuitamente)
medir o local para então enviarmos o projeto. 
Angela Patias e Hevando Medeiros, irmãos de estrada.



Repercussão imprensa:


31 outubro 2019




29 dezembro 2020



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A versão infantil que fiz do Sepé Tiaraju:


Criei em 2012 uma versão infantil do Sepé, a qual batizei de "Sepezinho o Pequeno Guerreiro". Com o objetivo de exaltar o período no qual Sepé viveu aqui em São Luiz Gonzaga e de incentivar as crianças a conhecerem a história dele. Sepé de acordo com alguns escritores(entre esses destaco o sr. Alcy Cheuiche com sua obra de 1975: Sepé Tiaraju), nasceu em São Luiz Gonzaga e viveu aqui até os seus 10 anos de idade, indo morar posteriormente em São Miguel das Missões.




Para saber mais sobre o Sepezinho: clica aqui vivente:https://viniciusribeiroescultor.blogspot.com/2012/02/sepezinho-o-pequeno-guerreiro.html

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O registro de direitos autorais do Sepezinho como história em quadrinhos:


Em 17 de março de 2014, junto com o desenhista, cartunista, chargista e grande amigo Sávio Moura, registramos a marca Sepezinho o Pequeno Guerreiro na versão para história em quadrinhos. 

Até o momento não fizemos a revistinha. Mas logo faremos. Nela estarão as histórias da sua infância aqui em São Luiz Gonzaga. Estamos a procura de parceiros culturais que queiram abraçar essa jornada.






Quer saber mais dobre essa futura história em quadrinhos de Sepé na versão infantil? Clica aqui:

https://viniciusribeiroescultor.blogspot.com/2015/04/sepezinho-em-quadrinhos.html


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As leis homenageando Sepé Tiaraju

Comenda Sepé Tiaraju em São Luiz Gonzaga, RS lei municipal nº 2.399 de 02 de fevereiro de 2004, criada pelo prefeito visionário sr. Jauri Gomes de Oliveira. É a mais alta honraria oficial do município. Na primeira edição da Comenda Sepé Tiaraju, realizada no dia 04 dezembro 2004, foram agraciados as seguintes pessoas: Pedro Ortaça(músico), Jorge Guedes(músico), Xirú Missioneiro(músico), Márcia Bastos(pintora), Lísia di Primio(bailarina) e Vinícius Ribeiro(escultor),tive a honra de receber junto com este seleto grupo.




Modelo de certificado da Comenda Sepé Tiaraju que tive a honra de receber na sua primeira edição em 2004.




Recebendo a Comenda Sepé Tiaraju das mãos prefeito Jauri em sua primeira edição: 04 de dezembro 2004.



Após essa primeira edição, a Comenda Sepé Tiaraju ficou em estado de adormecimento durante 14 anos...  Confesso que durante esse tempo todo tentei retornar o evento várias vezes, pois fazia parte das nossas ações em homenagem ao Sepé, porém sempre havia as questões políticas trancando a estrada. Até que em 2017 procurei a então Chefe do Setor turístico municipal(na época não havia ainda secretaria de Turismo) Rose Grings e expus a importância do evento, o que foi prontamente aceito pelo prefeito da época Sidney Brondani. A escolha dos homenageados coube ao Conselho de Turismo SLG. Naquela ocasião criei a Medalha da Comenda que até então não existia, criei e patrocinei, pela importância da comenda.


COMENDA SEPÉ TIARAJU ANO 2018(a retomada)

Em 07 fevereiro de 2018 foi realizado no Salão nobre da prefeitura SLG a retomada da Comenda. Os homenageados daquela edição foram: Jauri Gomes de Oliveira(político), Ana Olívia do Nascimento(historiadora), Danci Ramos(poetisa), Sávio Moura(desenhista), Luiz Carlos Borges(músico) e Júlio Fontela(radialista). Na ocasião também estavam presentes alguns homenageados da primeira edição de 2004 para receberem a medalha(que na época não existia), receberam: Jorge Guedes, Márcia Bastos.

Retomada da Comenda Sepé Tiaraju
ano de 2018


Jauri Gomes de Oliveira, criador da Comenda em 2002, recebendo do então prefeito Sidney Brondani a sua homenagem.


Luiz Carlos Borges, músico de além fronteiras, emocionado,
recebendo a comenda.


  

Danci Caetano Ramos, grande poetisa e escritora
(prima irmã de Jayme Caetano Braun)


Ana Olívia do Nascimento, professora e historiadora
a Alma do Instituto Histórico de SLG








Sávio Moura, desenhista, cartunista, chargista
tive a honra de entregar a Comenda, para este irmão de artes


Júlio Fontela, poeta, declamador, radialista e referência
cultural da nossa região missioneira.
(por motivos de saúde não pode estar no dia do evento)
recebendo das mãos de Luiz Oneide diretor rádio São Luiz
.


Márcia Bastos, pintora e professora pintura,
recebeu a Comenda na primeira edição 2004,
no dia, foi receber a medalha a que tinha direito e 
merecimento.
 


Jorge Guedes, cantor e músico
também foi um dos primeiros homenageados
da Comenda Sepé em 2004,
no evento de 2018, foi receber a medalha que merecia.
 



COMENDA SEPÉ TIARAJU ANO 2019: 

Em 2019 foram agraciadas as seguintes personalidades:  Antônio César Pereira Jacques, o Baitaca (músico e compositor) ; Alvenir Wolski(artesã e decoradora); João Carlos Nedel(vereador de Porto Alegre-RS)José Grisolia Filho(jornalista); Luiz Carlos Martins do Amaral(médico) e Olívio Dutra(ex-governador e ministro). Evento ocorreu no Salão Arciso Ferdinando Dugatto, da Rádio São Luiz.




Comendadores de 2019




O músico Baitaca em seu pronunciamento.



Alvenir Wolski artesã e fundadora do Centro de Criatividade São-Luizense



João Carlos Nedel são luizense vereador de Porto Alegre 



José Grisólia Filho, o "seu Iso", jornalista



Dr. Luiz Carlos do Amaral



Governador Olívio Dutra recebendo Comenda
das mãos prefeito Sidney Brondani.



Os homenageados 2019



COMENDA SEPÉ TIARAJU ANO 2020: 

Em 07 de fevereiro de 2020, no salão Espaço Messa(em SLG),  receberam a Comenda as seguintes personalidades:  Alceu Braga(político, ex-prefeito SLG); Newton Alvim(escritor e jornalista); Doné Teixeira(músico e compositor); Noé Teixeira(músico e compositor); Ivo Batista(presidente Coopatrigo)Ivone Ávila(professora); Otávio Dornelles(piloto automobilístico).


Os Comendadores de 2020



Alceu da Silva Braga, ex-prefeito SLG






Doné Teixeira músico e compositor


Ivo Batista presidente Coopatrigo



Ivone Ávila professora


Newton Alvim escritor, redator e jornalista




Noé Teixeira músico e compositor





Otávio Dornelles a lenda do automobilismo km de arrancada




Grupo de Danças Folclóricas FÊNIX, abrilhantando a noite do evento
com apresentação magistral.



COMENDA SEPÉ TIARAJU ANO 2021:

Em 2021, devido a pandemia mundial do COVID 19, a edição daquele ano foi adiada, sendo realizada somente em 07 de dezembro do mesmo, durante a 44ª Edição da Feira do Livro de SLG(uma das feiras do livro mais antigas do estado). 

Na data foram homenageadas as seguintes personalidades: João Máximo Galarce(João Cruzeira) músico tradicionalista e Érlon Péricles, músico e compositor.


João Máximo, ao centro, recebendo a Comenda Sepé Tiaraju, na Feira do Livro 
São Luiz Gonzaga 07 dezembro 2021.




Apresentação de João Máximo com seus filhos.




Erlon Péricles, músico e compositor.

Erlon, não sendo possível estar presente,
fez agradecimento pelo telão do evento.







COMENDA SEPÉ TIARAJU ANO 2022: 

EVENTO CANCELADO: COVID!

Na edição de 2022, foram escolhidos pelo conselho de turismo municipal as seguintes personalidades: Sônia Bressan Vieira(professora, reitora e escritora) e Mário Meira(músico e compositor). porém o evento foi cancelado devido a COVID 19


COMENDA SEPÉ TIARAJU ANO 2023:

A edição de 2023, ocorreu em 7 de fevereiro, no Salão Nobre da Prefeitura São Luiz Gonzaga-RS. Sendo retomada a sequência de homenageados escolhidos anteriormente pelo conselho de turismo, sendo eles:    Sônia Bressan Vieira(professora, reitora e escritora) e Mário Meira(músico, compositor, ex-prefeito).


profª. Sônia Bressan Vieira



Por motivos de saúde profª Sônia não pode estar presente e foi representada por sua irmã: Denise Bressan Werle, recebendo comenda das mãos
presidente câmara vereadores Rose Grings.







Mário Meira e sua harpa missioneira.





Mário Meira recebendo sua comenda das mãos vice prefeito 
José Flach Werle(prefeito em exercício).



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LEIS QUE HOMENAGEIAM SEPÉ:


HOMENAGEM ESTADUAL:

Lei estadual 12.366 aprovada por unanimidade pela Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul que declara Sepé Tiaraju como "Herói Guarani Missioneiro Rio-grandense" e foi sancionada pelo governador Germano Rigotto em 03 de Novembro de 2005. Projeto lei 5516/2005 de 28 de junho 2005, proposta do então deputado estadual Frei Sergio Görgen.


HOMENAGEM FEDERAL:

Lei federal nº 12.032/2009, que inscreve Sepé Tiaraju no "Livro dos Heróis da Pátria"      

Em 26 de março, o PL nº 5.516/2005, do Deputado Marco Maia é aprovado, por unanimidade, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados e é remetido ao Senado (passa a chamar-se Projeto de Lei da Câmara nº 63/2009). Em 11 de agosto, o PLC nº 63/2009 é aprovado na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal, tendo como relator o senador Paulo Paim (PT-RS). Finalmente, no dia 21 de setembro, o Vice-Presidente da República José Alencar no exercício da Presidência, sanciona a Lei nº 12.032/2009, inscrevendo Sepé Tiaraju no "Livro de Aço" do Panteão da Pátria, como Herói da Pátria.


Panteão da Pátria-Brasília-DF
Obra de Oscar Niemeyer







Livro de Aço onde estão nomes dos Heróis Nacionais







Medalha SEPÉ TIARAJU -cidade de São Sepé-RS




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Os plágios que sofri com o Sepé que fiz:


"Não são mágoas e sim histórias que precisam ser contadas..." Esta frase ouvi do meu amigo multi-artista Markito Moraes, o xamã da Timbaúva.
Acredito que não aconteceram propositadamente, mas pela confusão comum das pessoas acharem que uma obra em local público seja de domínio público. 
"OBRA EM LOCAL PÚBLICO NÃO SIGNIFICA TER CAÍDO EM DOMÍNIO PÚBLICO"
Esclareço que somente após 70 anos da morte do escultor é que a obra passa a ser de domínio público. 
Ou seja é permitido retratá-la porém não comercializar, vender, lucrar em cima da obra mesmo ela estando em local público. A nossa Lei Federal dos Direitos autorais 9610/98 é das mais modernas do mundo e severa com quem a viola.

Mas vamos às histórias:

1ª) A cópia do meu Sepé na cidade de São Gabriel-RS, junto ao local onde Sepé foi morto, na Sanga da Bica, afluente rio Vacacaí(hoje dentro da área central município).

A história: 
O sr. Antônio Cecchin irmão da ordem marista(maior defensor da história de Sepé Tiaraju que conheci), entrou contato comigo em maio de 2009, para ter uma cópia do nosso Sepé daqui de São Luiz Gonzaga. Fiquei muito feliz com os elogios dele referente ao nosso Sepé são-luizense. Enviei orçamento para fazer um Sepé exclusivo(diferente do nosso) de 2 metros altura. Porém somente em dezembro de 2011, seu Cecchin voltou a entrar em contato novamente; foi quando apresentei um valor mais baixo ainda que o anterior, para realizar o trabalho. Pois queria muito fazer a obra para a cidade de São Gabriel e sabia das dificuldades dele para conseguir recursos financeiros, era um abnegado e apaixonado lutador da causa do Sepé. Fiz o mínimo possível, só não dei por não ter como... 
Inclusive o prefeito de São Gabriel(não lembro o nome) demonstrou interesse em ter uma escultura minha do Sepé. Mandei orçamento, mas também não frutificou... Sei que gostavam do meu trabalho porque no site da prefeitura, foi usada a figura do nosso Sepé por vários anos. O que pra mim era motivo de alegria.(veja imagem abaixo)



Prefeitura de São Gabriel, para minha honra, usou por muitos anos em seu site oficial, a imagem de maquete(1ª versão mais realista) Sepé que fiz e divulguei no meu blog. 






Mas eis que tive a surpresa de ver que inauguraram em 07 fevereiro de 2015 uma cópia em tamanho reduzido do meu trabalho. Com algumas pequenas diferenças porém na essência é a mesma ideia. Até hoje não sei quem fez para o seu Cecchin esse trabalho, só sei que ele presenteou ao poder público naquela data(informações do site www.diferenciado.com.br). 


cópia do nosso Sepé são-luizense
não sei quem fez...


Não sei quem é o autor...







Inauguração em 7 fev 2015
em São Gabriel-RS


Esclareço que isso jamais me chateou, eu tenho um grande carinho e admiração pela trajetória do Ir. Cecchin, apenas sou obrigado a contar a história pois inacreditavelmente vieram me perguntar se eu havia copiado essa estatueta de São Gabriel. Como? Se a minha fiz em 2006? E a deles em 2015? 
O que eu gostaria é que a administração de São Gabriel citasse em placa, que a estatueta foi inspirada na nossa de São Luiz Gonzaga.





Ir. Antônio Cecchin com cópia do nosso Sepé são-luizense.
Esclareço:"não foi feita por mim!"
Não sei quem fez essa miniatura.











Antônio Cecchin- irmão da ordem dos Maristas,
pra mim o maior defensor da causa do Sepé.




2ª) A cópia em CANOAS- A segunda história de cópia, é muito parecida com a primeira, porém aconteceu em Canoas-RS.
Em 24 fevereiro de 2010 recebi e-mail de assessor vereador de Canoas solicitando orçamento escultura Sepé. Conversa muito agradável tivemos e enviei proposta, porém não frutificou...
Eis que somente em dezembro de 2020 fiquei sabendo que foi realizada uma escultura lá em Canoas. Na Horta Comunitária. 
Pra minha surpresa, perguntaram se eu havia me inspirado na obra deles... 
Educadamente falei que era bem o contrário pois a minha foi inaugurada em 19 abril de 2006(sem falar das maquetes desde 2002).
Confesso que também não fiquei bravo com essa nova situação constrangedora, apenas triste por não terem citado que foi inspirada na nossa daqui de São Luiz Gonzaga.
Eu espero que a Horta Comunitária tenha a gentileza de colocar na placa a informação que a escultura deles é totalmente inspirada na nossa.
Não sei até hoje por qual motivo meu colega escultor fez isso, em copiar nitidamente meu trabalho se poderia ele mesmo criar algo único. Talvez tenha sido induzido a fazer pois como falei, me pediram orçamento para realizar, porém não me contrataram. E meu preço é honesto. Não é abusivo.
A escultura de Canoas foi iniciada pelo escultor uruguaio Pedro Saéz e por motivos que desconheço a fundo, terminada pelo escultor gaúcho Vinicio Cassiano.

Cabeça iniciada pelo escultor
uruguaio: Pedro Saéz
perfil Facebook 9/04/2016

escultura pela metade na
horta comunitária Canoas
















Escultor Vinício Cassiano terminou a obra,
final de 2020.










3ª) A terceira história de plágio é com o jornal Pioneiro(RBS) Caxias do Sul







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CURIOSIDADES:

1) A primeira vez que retratei Sepé Tiaraju, foi uma estatueta que fiz em 1996, quando morei em Santana do Livramento-RS.
Diretora de escola encomendou uma dele, uma do Negrinho do Pastoreio e do Saci Pererê, retratando as "Lendas do Brasil". Sepé entrou como lenda nessa... 
Não criei nada, apenas copiei a figura que me mandaram(apesar de mudar a posição da lança e acrescentar botas de garrão de potro). As estatuetas foram utilizadas para explanações educativas nas escolas.



Esta foi a primeira estatueta que fiz de Sepé, 1996
para escola de Santana do Livramento-RS.