Translate

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Nosso senhor o Cristo Redentor











Passa por reforma o Monumento ao Cristo Redentor, símbolo do Rio, do Brasil e recentemente do mundo, por ter sido escolhido como uma das sete maravilhas modernas . 
De acordo com as fotos abaixo, é possível ver que a reforma é realmente necessária... 
A danificação na ponta dos dedos e outras partes é devido a ação de raios.





Desde sua inauguração em 1931, esta será a sua quarta reforma.
A primeira foi em 1980 na visita de João Paulo II, a segunda em 1990, depois em 2003(inauguração escada rolante) e agora a de 2010 é uma preparação para a festa dos seus 80 anos, no ano que vem.

Andei pesquisando um pouco sobre a história deste monumento e solucionei muitas dúvidas que tinha.  

Reproduzo abaixo o que descobri, para os admiradores, como eu, desta obra que é um marco no mundo das Artes, da Arquitetura e da Engenharia.

O modelo do cristo que conhecemos, foi escolhido após concurso público, lançado em 1923, a comissão responsável analisou três projetos apresentados, sendo seus autores: José Agostinho dos Reis, Adolfo Morales de Los Rios e Heitor da Silva Costa.

O engenheiro Heitor da Silva Costa (o grande mentor da obra) foi o autor do projeto vencedor, a princípio a figura do Cristo estava com o braço esquerdo abraçado a uma cruz e com o globo terrestre na mão direita(vide foto), mas não foi muito bem aceito pela população que visualizava o desenho(feito com a colaboração do artista plástico Carlos Oswald) exposto em local comercial, na Avenida Rio Branco, centro do Rio, apelidaram graciosamente de: "O Cristo da bola"(o globo parecia uma bola de futebol mesmo e o bom humor carioca prevaleceu).


 


Talvez devido a isso, ou pelo fato do modelo ser muito parecido com o cristo de Mendoza na Argentina, símbolo da amizade Argentino/Chilena, inaugurado em 1904(vide foto), ou para descaracterizar um pouco o apelo religioso da figura... Não sei, só sei que o modelo sofreu grandes transformações e a meu ver fantásticas.


 

Dizem que Heitor Silva da Costa modificou o projeto inicial para o Cristo de braços abertos formando uma cruz, após ver uma antena de radiofonia, instalada no próprio Corcovado (a primeira do país, fazia ligação com os EUA) e que tinha o formato de uma cruz (vide foto mais abaixo), era possível vê-la da sua casa, na praia do Botafogo. 
A partir disso Carlos Oswald fez novos desenhos até chegarem a um modelo certo. Caiu no gosto popular. 
Um dos motivos disso ter acontecido era por que o Cristo estava de braços abertos como uma imensa cruz da paz, podendo ser visto de longe, a recepcionar a todos.  
A estátua do Cristo passou a ser a maior obra do estilo Art déco do mundo, estilo de linhas decorativas, modernas e elegantes.
O estilo escolhido deu à imagem, uma apresentação mais artística do que religiosa. 

E a escolha foi inteligente, pois a imagem proporcionou à igreja católica mostrar, discretamente e sem agredir, sua importância diante a República.
Principalmente naqueles conturbados períodos de crescentes movimentos revolucionários esquerdistas (juventude tenentista, coluna Prestes) que tanto preocupavam a igreja...
 
Interessante que a igreja passou a ter mais espaço na República do que na Monarquia.
A construção do monumento também serviu para mostrar ao mundo que o Brasil era um país totalmente católico.


O artista plástico, escolhido para fazer parte da equipe, foi o grande pintor Carlos Oswald (florentino, naturalizado brasileiro), coube a ele elaborar todos os desenhos, dando vida às modificações até o desenho final do modelo aprovado.

















Faziam parte da comissão central o engenheiro fiscal Pedro Fernandez Vianna da Silva e o “arquiteto/engenheiro/mestre de obras”, o italiano Heitor Levy.
Levy, que era judeu, apaixonou-se pela obra e dedicou-se por completo na realização dela, adoração tal que se converteu ao catolicismo; chegou a colocar em um pequeno vidro a sua árvore genealógica e concretou no coração da estátua.
Outro engenheiro que trabalhou na parte importantíssima dos cálculos estruturais foi o grande engenheiro frances Albert Caquot.
Os cálculos da estrutura, juntamente com o difícil acesso foi um capítulo a parte na história da engenharia no Brasil. Ela foi projetada por Caquot, para suportar ventos de até 250 km/hora.
O espaço para o trabalho era estreito, os operários quando em cima dos braços da estátua estavam diante de um precipício de 700 metros...
Mesmo assim com todo o perigo, não houve perda de nenhuma vida e nem acidentes graves; considero mais um dos tantos milagres que envolvem a estátua, pois vi fotos dos operários caminhando naqueles andaimes, naquela altura e sem nenhum cinto de segurança.



O engenheiro Heitor da Silva Costa, de posse dos dados, estudos e plantas do projeto, foi para Europa em busca de duas coisas: Realização de todos os cálculos estruturais feitos por engenheiro experiente em grandes obras (no caso Albert Caquot) e de um escultor qualificado para dar vida às partes mais emotivas da obra: o rosto e as mãos.
E foi encontrar na França o importante trabalho do escultor frances Paul Landowski(Paul Maximilien Landowski, filho de imigrantes poloneses), ele confeccionou várias maquetes para visualização, a cada nova maquete em tamanho maior, eram realizadas modificações, sob orientações de Heitor da Costa, até chegarem na maquete de quatro metros, que serviu de guia final para a estátua de 30 metros.Coube também, ao escultor, a tarefa de confeccionar a matriz em gesso da cabeça e das mãos; ele teve auxílio do escultor romeno Gheorghe Leonida(dizem os romenos que foi Gheorghe que fez quase todo trabalho).
Para saber mais sobre o que aqui digo de Gheorghe Leonida e sua importante família romena favor clicar aqui:
http://dimitrieleonida.wix.com/viata-si-opera#!__familia
e aqui:http://brazilia-romania.blogspot.com.br/2009/07/cristo-de-cabeca-romena.html

Entrei em contato com embaixada romena pedindo mais informações sobre este grande escultor e eles repassaram o seguinte site para pesquisa: http://brazilia-romania.blogspot.com.br/2007/03/voc-sabia.html



Após os escultores realizarem sua parte, enviaram do atelier para o Brasil as seguintes peças em gesso: a cabeça, as mãos (desmontadas e em vários pedaços) e a maquete de 4 metros, dividida em blocos, para servir de guia.
Aqui no Brasil é que elas foram montadas como num complicado quebra-cabeças
(mais precisamente no sítio do arquiteto Heitor Levy, em São Gonçalo, Niterói), elas vieram em caixas e estavam numeradas (vide foto anexo); após isso a equipe brasileira, executou a dificílima parte que foi a de fazer as fôrmas e retirar cópia definitiva em concreto.
Todo restante da obra (braços, tronco e corpo todo) foi realizada também aqui no Brasil; e não como pensam alguns que a estátua veio toda da França e foi apenas montada aqui, existiu até um absurdo comentário de que toda a obra tinha sido um presente do governo Frances..., bobagens que são facilmente derrubadas com os inúmeros documentos históricos, fotos e filmagens existentes sobre o assunto.  
Talvez a confusão seja por que a estátua da Liberdade sim foi um presente da França aos Estados Unidos.
Mas repito para que não exista nenhuma dúvida: da França, capital das artes, vieram apenas os moldes (belíssimos) em gesso da cabeça e das mãos (vieram desmontados) e a maquete guia de quatro metros (também desmontada).
O resto da obra foi tudo feito aqui, com o suor dos inúmeros operários brasileiros. 
Os honorários dos escultores europeus, assim como todas as despesas, foram pagos com as doações voluntárias dessa multidão de brasileiros admiradores do Cristo.
O monumento ao cristo, com seus 1.145 toneladas, foi a primeira estátua construída, até então, como um monumento arquitetônico, com todas as complicações e cálculos de um edifício naquele local.  
O tipo de argamassa usada na estrutura é algo surpreendente, é uma mistura de cimento, areia, pedra brita, ”açúcar" e "óleo de baleia”, dizem que isso era comum na época. E está aguentando até agora... 
Recentemente, devido ao sal, também existente na massa, foi constatado que a estrutura de ferro começou a dar problema forte de oxidação, a solução foi colocar tela de titânio interna e eletrificá-la, o sal é atraído para a tela. 
A tela foi doação de uma empresa americana Corrpro Inc.
Açúcar, sal, óleo de baleia...Se juntar mais farinha de trigo, dá para fazer um bolo com a massa do monumento.


A cobertura da estátua é toda com 1,5 milhões de pequenos triângulos de 03 cm cada lado e 07 mm de espessura, de Pedrão sabão na tonalidade verde, vindas da cidade de Carandaí, Minas Gerais, podendo ser considerado um dos maiores mosaicos do mundo. 
A idéia de cobrir a estátua com um mosaico, surgiu quando Heitor da Silva Costa em Paris, ele viu uma fonte na galeria Champs Elysées, no centro da cidade, era toda coberta de mosaico prateado.
A colagem na estátua foi outra dificuldade medonha, não foi uma a uma, mas agrupadas e coladas em pequenas toalhas de linho, para daí sim serem fixadas na estátua com argamassa. 
Para melhor fixação delas, era preciso fazer ranhuras em cada um dos triângulos de pedra sabão; a pedra sabão é de facílimo manuseio, pode ser riscado facilmente, mas imagino o trabalhão que deu...
Para esse serviçinho foi pedido auxílio ao voluntariado feminino da Paróquia da Glória (RJ), que utilizaram oficina ao lado da igreja para fazer isso por vários dias.
Conta-se que elas aproveitaram para escrever seus nomes, de seus familiares e de pessoas amigas no verso das pedras, a fim de serem abençoadas pelo Cristo.  
Ficou comprovado que a pedra sabão é uma cobertura perfeita para resistir às intempéries, pois agüentaram 50 anos firmes, a escolha da pedra sabão para a cobertura foi mais uma das ideias iluminadas; somente na década de 80 é que algumas começaram a cair, isso devido a infiltrações, então foi feita aquela reforma para a vinda do Papa.
Em 2003 tiveram que trocar uns 15% da cobertura de pedra sabão e na impossibilidade de acharem do mesmo veio de cor esverdeada, tiveram que apelar para pedra sabão mais cinza mesmo.
E quem diria que o monumento, tão apreciado pelos oligárquicos da república, fosse inaugurado em 12 de outubro de 1931, pelo líder da revolução de 1930, o são-borjense e missioneiro Getulio Vargas.

Difícil alguém que fale mal dessa majestosa e trabalhosa obra.
 
Até mesmo os recentes pichadores que aproveitando a “sonolência” dos responsáveis pela guarda do monumento, subiram pelos andaimes e lá fizeram suas idiotices, deram depoimento que estavam arrependidos.
Queriam chamar "atenção e ficarem famosos", característica marcante em todos os seres humanos...

Lástima que alguns retardados pretendem fazer isso destruindo o trabalho de outros.
Qual grandiosidade de em poucos minutos danificar anos de esforços coletivos?
 
Li que até os mais radicais pichadores do Rio de Janeiro condenaram o ocorrido.
Mas o importante que eles se apresentaram, vão arcar com as consequências e hoje já estão fazendo até campanha contra a pichação.


Esta nova reforma do Cristo Redentor será externa e em toda estrutura interna de ferro.
 
O valor está orçado em R$ 7 milhões de reais.
Patrocínio em parte da Vale do Rio Doce(mineradora) e novamente, de arrecadações dos admiradores do Cristo Redentor, com a campanha “Eu sou do Cristo”(compra de broches com figura do monumento ao valor de R$ 7,00 cada).


A ideia de se fazer um monumento religioso no morro do Corcovado era antiga, surgiu em 1859, quando o padre frances salesiano, Pierre Marie Bos(de acordo com seu diário) chegou ao Brasil e encantou-se com o local e sugeriu a Princesa Isabel a construção de um edificação naquele local, em homenagem ao filho de Deus.
Coincidências do destino, o nome Corcovado foi dado pelos portugueses em substituição ao anterior, que era: “Pináculo da Tentação”, dado por Américo Vespúcio em 1502, de acordo com a Bíblia era o monte onde Jesus foi tentado e triunfou.

Somente de 1921, devido às vésperas do centenário da independência é que a ideia retornou.
Na disputa pelo melhor local,  o Corcovado
ganhou do Pão de Açúcar e do Morro Santo Antônio, por ser um pedestal maior.
Depois disso a Arquidiocese do Rio, na figura dinâmica do recente chegado cardeal Sebastião Leme (que veio como arcebispo-coadjutor, ajudar o cardeal Arcoverde que estava já muito adoentado) encabeçou um abaixo assinado de mais de 20.000 assinaturas apoiando a construção do monumento e encaminharam ao presidente Epitácio Pessoa, a fim de conseguirem autorização de fazer naquele local público, isso porque a Procuradoria da República havia negado a licença para a construção do monumento em área pública...

A figura do Cardeal Sebastião Leme foi decisiva para a construção do monumento, pois foi ele o responsável direto pelas inúmeras campanhas de arrecadações para a obra.

O local exato da estátua no Corcovado foi muito bem estudado e calculado por Heitor da Silva Costa, ele visualizou o morro de vários pontos da cidade para estabelecer a proporção do pedestal exata assim como o tamanho da obra e sua melhor posição, onde pudesse ser vista por todos os lados.

A pedra fundamental foi posta em 1922, mas as obras somente iniciaram em 1926, demora esta, devido ao fato das verbas serem exclusivamente de doações de católicos de todo pais, onde entraram doações diretas, arrecadações em festa religiosas, senhoras e crianças nas esquinas com lençóis brancos, captando moedas e diversas outras formas voluntárias e criativas, por todas as paróquias nacionais.
Ao todo foram vários anos de arrecadações e cobriu todos os altos custos, com saldo positivo no final.
O total arrecadado ficou em 2.500 contos de réis o equivalente hoje a Seis milhões de reais. (obs. Preço custo da reforma para 2010: Sete milhões de reais).

Um belo exemplo de campanha vitoriosa, que deve ser seguido.


Interessante que mesmo assim, a campanha da construção, foi duramente criticada por outra Religião, manifestando em jornal, sua desaprovação; dizendo que a confecção de tal monumento seria uma absurda forma de idolatria imposta pela igreja católica e Deus não precisava disso.  

Aconselharam a utilizarem o dinheiro das doações na construção de obras beneficentes(famoso cumprimentar com chapéu alheio)...
No meu ver nada impedia deles fazerem campanha similar...


Bueno, eu não sou defensor da "adoração" de imagens, mas sei que todo símbolo religioso tem por função principal: “remeter-nos ao sagrado”; e isso pode ser uma estátua para um católico, uma bela sede para outra religião ou até uma foto de um líder religioso na parede para outra.

Todos merecem respeito.


Sobre isso de imagens, de que Deus “proibiu” Moisés de confeccionar imagens, acho que há uma interpretação errônea aí, pois se Ele tivesse realmente proibido não teria, em seguida, dito para serem confeccionados dois Querubins para serem postos em cima do local mais sagrado que há na Biblia que é a Arca da Aliança.
Imagino o escultor da época Besaliel, perguntando a Moisés: “Mestre! É para fazer escultura ou não??”
Ele proibiu a adoração e não a realização da Arte da escultura! Como poderia proibir, logo ELE o primeiro dos escultores, por modelar Adão no barro. E a adoração pode ser a qualquer coisa.

Pra mim, o maior símbolo de adoração de imagens que há no mundo, e ao qual “Ele” se referia, é o símbolo do cifrão $.
Este é o verdadeiro Bezerro de Ouro e não uma esculturazinha dum tourinho de metal...

“Que eu domine o cifrão e o tenha na mão (ele a mim não!).”

O monumento ao Cristo há muito tempo deixou de ser apenas um símbolo religioso e sua fantástica força turística impulsiona assombrosamente o Rio de Janeiro; hoje todas as religiões direta ou indiretamente estão se beneficiando com isso.
Atualmente os membros da mesma religião que era contrária a criação da estátua do Cristo, considera ela como um importante símbolo de todos brasileiros.
E muitas igrejas evangélicas, realizam atualmente culto nos degraus do monumento, pois sabem que ela hoje é propriedade de todos.
Que bom que hoje pensam iguais e a paz reina entre todos. 
Pelo nome de “Deus” muita gente já matou e muitos continuam sendo mortos...


As medidas da estátua do Cristo Redentor:
Localização - Cume do Morro do Corcovado, 710m acima do nível do mar, Rio de Janeiro-RJ-Brasil.
Visibilidade - 360º
Altura total do monumento - 38m
Altura da estátua - 30m
Altura do pedestal - 8m
Altura da cabeça - 3,75m
Comprimento da mão - 3,20m
Distância entre os extremos dos dedos - 28m
Peso da estátua - 1, 145 toneladas
Peso da cabeça - 30 toneladas
Peso de cada mão - 8 toneladas
Peso de cada braço - 57 toneladas
Distância entre os extremos dos dedos - 30 m
Material da estátua: Concreto armado.
Inauguração: às 19:15 do dia 12 de Outubro de 1931

Finalizando: 
A cabeça e as mãos coube a arte da Escultura.
As grandes linhas, resto do corpo e braços coube a Arquitetura.
A estrutura e os cálculos complicados de sustentação coube a Engenharia.


Assista o belo documentário sobre a construção da estátua do Cristo Redentor, feito pela neta de Heitor da Silva Costa, Bel Noronha, no Youtube. 
Está em quatro pequenas partes. 
Aqui vai o link para a primeira:
http://www.youtube.com/watch?v=zj2kvIDXTMw

2 comentários:

Adlei Nilvan Salinos Pereira disse...

Caro Vinicius, a tempo gostaria de saber muito sobre esta obra, que também me fascína, parabens pela postagem.
Sucessos e abraços.

Anônimo disse...

Oi Vinicius, a foto que está nomeada como Heitor da Silva Costa (sentado com uma maqueta do Cristo) é na verdade Heitor Levy.