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terça-feira, 31 de maio de 2011

Genealogia da Justiça


"Ó tu que trabalhas com a lei!!(ou pra quem está meio enrolado com ela)"

Aqui te advirto:

Sabes qual o simbolismo da Deusa da Justiça?

O que significa sua imagem??

Devido ao fato de estar fazendo a escultura da nossa "Justiça Missioneira",que será colocada na entrada do novo Fórum, a ser inaugurado em setembro aqui em São Luiz Gonzaga, me aprofundei sobre a história da deusa da Justiça.
Sinto-me honrado com essa missão, principalmente por estar plenamente amparado pelo nosso Judiciário local e pela OAB-subseção SLG.

Reparto com os interessados o pouco que já sabia e o muito que descobri desta fascinante símbologia milenar.

A referência primordial que sei sobre a figura representando a justiça é egípcia e chama-se: Maet ou Maat, deusa que representava o equilibrio e a justiça para os egípcios; ela pesava em uma balança o coração do recém desencarnado. 
Num prato da balança colocava uma pena, no outro o coração do morto; quando a pluma equilibrava com o coração o réu ganhava o paraíso, pois era sinal de ter levado uma vida virtuosa, do contrário, quando o coração pesava mais que a pluma, significava uma vida de vícios e defeitos, era então comido por Ammit a divindade mais temida do antigo Egito, que com sua cabeça de crocodilo, devorava aos pecadores.
Para presidir esse julgamento, sempre estava presente a figura de Anúbis o grande juiz das almas.

Mas é na mitologia grega que a figura da justiça ganhou outras variações.
Sob forte influência egípcia, e de outros povos que para lá foram, a Grécia antiga moldou seus deuses. 
É a famosa Teogonia Grega
Ou seja, a formação dos deuses gregos, onde por essa genealogia se explicava a criação do mundo.
Antes de mais nada é bom entender que tudo são simbologias, onde os antigos gregos explicavam(muito antes da Bíblia) o princípio da criação; não se pode levar ao pé da letra...
E muitos historiadores apresentam versões diferentes sobre o tema.
Com relação a deusa da Justiça, toda história centraliza-se em:Têmis (a deusa dos tribunais e juramentos, a protetora da ordem e da lei) e mais tarde sua filha Diké( a verdadeira deusa da justiça para os gregos).
Comecemos então, a interessante e complexa teogonia grega, na parte que nos referimos:
No início existia o Caos
e dele, nascem Gaia, Tártaro(deus dos mundos inferiores), Eros (deus do amor), Érebo(deus do vácuo) e Nix (deusa da noite).
Gaia, a deusa da terra, gera por partogênese (reprodução assexuada): Urano(deus do céu), Ponto(deus do mar) e as Óreas (as montanhas).
Gaia e Urano geram os 12 Titãs: Oceano, Céos, Crio, Hiperião, Jápeto, Téia, Reia, Têmis(eis a nossa pioneira da Justiça), Mnemosine, Febe e Tétis; e depois nasceu Cronos, aquele que mais tarde castrou o próprio pai, Urano(tirano que odiava os filhos).
Foi devido a esse ódio de Urano aos filhos, que Gaia, tentando afastá-los do pai, enviava eles para longe, foi o que aconteceu com a nossa Têmis, Gaia enviou ela para ser cuidada pela sua irmã Nix, a deusa da noite, acontece que Nix estava cansada de ter gerado incessantemente filhos(uma caçambada) e reenviou Têmis, junto com Nêmesis(a então, mais recente filha de Nix) para serem educadas pelas Moiras(irmãs Cloto, Láquesis e Atropo), deusas do destino e filhas mais velhas de Nix. 
As deusas Moiras acabaram criando as primas Têmis e Nêmesis, e mais tarde, as Erínias( deusas também chamadas de: As tres fúrias). Eram elas: Tisífone (Castigo), Megera (Rancor) e Alecto (Interminável) essas três gurias "nasceram" do sangue de Urano quando castrado por Cronos e que salpicou em Gaia.
 
Mas voltando a Têmis e Nêmesis: O fato de serem educadas pelas Moiras foi determinante para elas, aprenderam sobre a ordem, o equilíbrio natural de tudo. 
As Moiras eram as deusas do destino, da vida e da morte, tanto dos deuses como dos homens, cada uma representava uma função: Cloto era a que fiava no tear chamado "A roda da fortuna" o fio da vida de cada um, Láquesis era a que determinava o comprimento do fio e Átropos era a que cortava o fio determinando o momento da morte de cada um. 
As quase irmãs, Têmis e Nêmesis além de muito belas, tiveram a mesma educação e tinham como mesmo símbolo a balança, mas cada uma apresentava suas diferenças: Têmis era a deusa da ordem, da ética e da prudência; já Nêmesis era a deusa da lei ao pé da letra, sem misericórdia, era vingativa contra o orgulho, arrogância e tudo aquilo que era contra a lei e a ordem, era implacável; até hoje o nome Nêmesis é sinônimo de pior inimigo
Um dos que ela aplicou uma lição foi em Narciso o bonitão, dizem que a muherada desesperada pelo fato de Narciso não dar a bola para elas, resolveram apelar para Nêmesis, ela enfeitiçou um lago onde ele se apaixonou pelo seu reflexo e definhou até morrer...
Têmis por sua vez era a defensora dos oprimidos, dos que precisavam de auxílio perante tribunais ou a lei. 
Ela falava aos homens através dos famosos oráculos, e o dela era o famoso Oráculo do Templo de Delfos, aquele onde diz no frontispício:  
“Te advirto, quem quer que sejas, oh tu! Que desejas sondar os mistérios da natureza.
Como esperas encontrar outras excelências se ignoras as excelências de tua própria casa?
Em ti está oculto o tesouro dos tesouros. Oh homem! Conhece-te a ti mesmo… e conhecerás o Universo e os deuses.”
A prudente e diplomática Têmis casou-se com Zeus, foi a segunda esposa dele e dizem por aí que foi ela a responsável pelo amadurecimento de Zeus, incutindo nele exemplos de harmonia, prudência e justiça, foi sempre a grande conselheira dele.
Com Zeus, Têmis teve várias filhas: As chamadas Horas(ou estações)as três primeiras chamavam-se, Irene (paz), Diké (eis a nossa herdeira da justiça) e Eumônia (disciplina)e as outras nove Horas, são as guardiãs da ordem natural, do ciclo anual de crescimento da vegetação e das estações climáticas anuais, são elas: Talo, Carpo, Auxo, Acme, Anatole, Disis, Dicéia, Eupória e Gimnásia.
A última filha de Têmis e Zeus chamava-se Astreia, era a deusa virgem da pureza e da inocência, que ensinava as coisas simples do cotidiano aos humanos, como a arte da caça, do cultivo do solo...Ela também herdou da mãe a balança como símbolo e muitos confundem ela como a deusa da justiça.
Mas foi Diké a verdadeira herdeira do símbolo da justiça para os gregos.
Nas antigas esculturas representando Têmis, ela estava sem vendas, pois tinha o dom da profecia e enxergava longe e não usava espada, pois ela representava o comum acordo
Já sua filha Diké, é representada com a mão direita sustentando uma espada em posição ativa (representando a força, a aplicação da lei), ou seja para cima, quase agressiva; na mão esquerda tinha uma balança de pratos, herança de sua mãe Têmis, representava a igualdade a ser alcançada, com o fiel da balança sem estar no meio, o fiel só iria para o meio após a realização da justiça, do ato julgado.
Ela sempre está descalça e com os olhos abertos ( numa alusão a busca pela verdade ou porque também tinha herdado o dom da profecia).






A atual figura que conhecemos da deusa da Justiça, é uma versão romana e tem toda diferenciação em seu simbolismo. Chama-se JUSTITIA
Usa vendas nos olhos, representação da justiça igual para todos, sem beneficiar ninguém, sendo imparcial, com igualdade de direitos para todo mundo. 
Nesta versão, o fiel da balança está bem no meio, simbolizando o equilíbrio a ser alcançado
A espada está para baixo, como que em descanso, sem ser agressiva ou assustadora, podendo ou não ser usada.
Vi algumas imagens dela com sandálias romanas.
De todas representações da deusa da justiça esta é a que melhor a representa, em termos de simbologias. 
Também me encanta, a figura diplomática e prudente de Thêmis.







Agora explicarei sobre a nossa: "Justiça Missioneira":
 
A ideia surgiu em 2009, após o presidente do Fórum da comarca de São Luiz Gonzaga: Juiz Luis Ântonio de Abreu Johnsons, solicitar-me uma das minhas estatuetas, da série:"Indias Missioneiras"(lindas por sinal, modéstia a parte) para regalar a magistrados superiores. 
Pensei em algo diferente e único, a fim de divulgar nossa terra, nossa rica história. Surgiu a "Justiça Missioneira".
Terá na sua mão esquerda a balança, com o fiel no centro; na mão direita a lança(ao invés da espada) em posição de espera, sem ser agressiva, mas não menos atenta.
Usará venda nos olhos, enfatizando dessa maneira a necessária imparcialidade.
Terá uma pena na cabeça, simbolo da primeira de todas as deusas da Justiça: Maat e da herança guarany. 
Vestirá o tipoy, roupa que as indias vestiam nas reduções missioneiras, e como lembrança de suas raizes, o atado nas pernas, chamado tetymakuá(feito do cabelo trançado da menina guarany após sua primeira menstruação).
No pescoço um colar com presas de jaguareté, demonstrando sua bravura.
Acredito que simbolizará muito bem a Justiça na nossa terra, pois representará a seriedade, a valentia e determinação de todos aqueles que nela trabalham. 
Ela será belamente fixada na entrada do novo Fórum da comarca de São luiz Gonzaga.
A escultura será de concreto armado, terá dois metros de altura e pesará mais ou menos 900 kg.








Logo começarei a publicar as fotos das etapas da construção.



obs: Pra quem está meio enroscado com a Lei, no dia 08 de Janeiro é a data comemorativa dela e nada melhor que acender um incenso de lavanda pra fazer uma média.
Tudo ajuda...










2 comentários:

Anônimo disse...

Ao lançamento para a campanha de aquisição da escultura da “Índia” que simbolizará a “Justiça Missioneira”, sendo afixada em frente ao prédio do novo Fórum em São Luiz Gonzaga.

Zeca disse...

Parabéns pelo estudo apresentado e pela magnífica obra que está sendo projetada, a "Justiça Missioneira"
Um grande abraço

Zeca Klitzke